segunda-feira, 30 de março de 2009

1.1 Quem foram os anabatistas?


Os anabatistas foram os pioneiros que contribuíram para a liberdade religiosa. Registros históricos datam sua existência a partir do século XI. Eles eram pessoas que não concordavam com as práticas católicas e voltavam-se para a bíblia como única fonte confiável sobre Deus, organizando-se e estruturando doutrinas próprias.

Com o tempo, eles estenderam-se entre as camadas populares e formaram sindicatos anabatistas de camponeses. Como o poder de pensar pertencia a igreja, e esta dominava as relações comerciais, formar sindicatos anabatistas, que possuíam doutrinas contrárias à da igreja e defendiam os camponeses era ser a oposição ao governo.

Com esta visão é fácil saber o que aconteceu a eles. Eram quase sempre reprimidos, por isso nunca tiveram força para iniciar uma reforma. Apesar disto, não era este o seus principal objetivo, apesar de terem contribuído para o mesmo. Os reformadores pretendiam reformar a velha igreja pela Bíblia, e os anabatistas, a oposição, os radicais, tentaram construir uma nova igreja sobre a Bíblia.

A reforma nasceu do berço anabatistas, mas não fazia parte dele, e no futuro seria inimiga do mesmo por defender a reforma da igreja e a ligação da mesma com o estado, enquanto que os anabatistas defendiam uma igreja livre e autônoma, uma nova igreja.

Podemos dizer então sem sombra de dúvida que os movimentos evangélicos hoje não tiveram raízes profundas na Reforma, apesar desta ter sido uma grande colaboradora, pois ela não teve muito sucesso que fosse permanente, sendo totalmente reprimida, e a igreja permanecida como estava. As verdadeiras doutrinas e raízes dos batistas e de movimentos subsequëntes tiveram origem então nos chamados protestantes, e não nos reformadores.

Mas a partir do momento que os anabatistas tornam-se batistas, tornam-se uma religião independente, perde-se o título de protestante e assume o título de evangélico por pregarem o evangelho como fonte da verdadeira doutrina.

Luteranos e Zwinglianos praticamente anabatistas no início de suas carreiras, chegaram a ser os mais cruéis perseguidores destes. Os anabatistas possuíam várias divisões, e os mais exaltados foram as responsáveis pela ira dos reis e reformadores. Além do que crescente adoção de grande parte da população colocava em risco os propostos reformadores de Lutero e Zwinglio.

O papel dos anabatistas na Reforma foram o de ser bases para o impulso do movimento transformador.

Felipe Rodrigues Seabra - trabalha com vídeos, edição, publicidade, comerciais, propagandas. Mora em Fortaleza e é membro da Igreja Batista Candeias em Fortaleza, Ceará. Trabalha com o Ministério do Crescimento.

terça-feira, 24 de março de 2009

GENODROPS - Marcelo Leiroz


No blog do Marcelo Leiroz - GENODROPS - vccê pode se deliciar com resenhas de filmes e livros. Tem arte, música e muita crítica. Ele coloca as fotos e imagens dos filmes - clássicos do cinema, seus preferidos. Hoje não deu para resistir e coloquei o post de hoje dele - Roy Orbison . Clique para ouvir. Você vai choramingar com estas baladas melosas e sentimentais dele. Talvez você não resista e saia dançando pela sala. Faça isto. Chore e dance.


Marcelo escreve:
" Julee Cruise é considerada a VOZ DO AMOR e o americano Roy Orbinson pra mim é A VOZ MASCULINA DO AMOR. Pioneiro do Rock. Ganhou sua guitarra aos seis anos. Sempre com sua marca registrada: seus óculos escuros. RO imprime em suas músicas um tom tão melódico que é difícil não identificá-las como as famosas baladas de amor perdido de Big "O".
Os Beatles ficaram honrados de tê-lo em sua turnê.
Faleceu em 6 de dezembro de 1988, em Hendersonville, Tennessee, aos 52 anos.
Do disco K, destaco a tríade (clique para ouvir):
- Crying (com K.D. Lang)
- After The Love Has Gone
- Love in Time


Postado por Marcelo Leiroz às 21:35

Marcadores: música

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sábado, 21 de março de 2009

Culto na Alemanha - Huguenotes

Queridos amigos e colegas de ministério musical nas igrejas

Fiquei tão feliz e encantada de ouvir meu irmão e amigo Amaru Soren, quando ao telefone começou a falar sobre o culto na Igreja dos huguenotes 1693), o órgão de 1764 e do histórico Saltério de Genebra (idealizado por Calvino, séc. XVI), que lhe pedi que escrevesse e me enviasse por e-mail para compartilhar com vcs .
Leiam abaixo o belo relato dele.
Ao final a liturgia.
Grande abraço
westh ney

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Querida Westh Ney,

Como Deus atua em nossas vidas por meios que muitas vezes para nós são desconhecidos, fui chamado domingo dia 8 de Março para atuar como organista - em uma situação de premência - em um culto na Igreja dos Hugenotes de Erlangen - Nuremberg. Esta é uma das igrejas evangélicas mais antigas (1693), mais tradicionais e exigentes à nível de estrutura de cultos, liturgia e música sacra na região da Baviera.

Saí de casa as pressas, estava nevando, arrastando uma mala que quase estourava, repleta de hinários, partituras, e com o coração batendo forte!

O Templo, de estilo barroco é de uma beleza elegante e discreta (espero que as fotos saiam bem no email), é claro, luminoso, de forma arredondada, conduzindo a vista a um ponto principal onde estão o púlpito, a mesa para a ceia e a pia batismal.
Doze colunas sustentam a parte superior do templo, amplas galerias, onde estão localizados o órgão e o coro.

Muito interessante foi ver de perto este púlpito, que é uma grande obra de marcenaria com inspirações doutrinárias, possue a forma de um cálice. Será ocupado sempre pelo pastor, exclusivamente no momento de proferir o sermão à congregação.


As minhas apreensões foram desfazendo-se, transformando-se em impressões de reverência e tranquilidade a partir do instante em que entrei neste Templo. A forma pela qual fui recebido pelo Pastor Johannes Mann, a forma pela qual a zeladora amavelmente me conduziu até ao órgão, e também observando a atitude de nossos irmãos em Cristo que estavam lá trabalhando, responsáveis pela limpeza e manutenção do Santuário, fizeram-me imediatamente lembrar de Eclesiastes 5.1, versículo que tão bem conhecemos: "Guarda o teu pé... "

A Liturgia do culto (está em anexo) é encadeada de momentos de adoração, confissão, proclamação, meditação; sempre relacionados à diversos cânticos. Um culto que permite aos seus participantes uma fluência de momentos espirituais, sem a necessidade de anúncios. Então constatamos também de como é poderosa e clara a linguagem não verbal em um culto!

Após o prelúdio e a saudação relacionada ao significado do culto daquele domingo, o primeiro hino a ser cantado foi 263 do EG (Hinário Evangélico Alemão): "Sol da Justiça, achegue-se aos nossos dias/ Brilhe através da Tua Igreja/ para que o mundo todo possa ver-Te!"
Não existe melhor surpresa e inspiração para um organista do que uma congregação que cante, e cante como um grande coro! E foi o que aconteceu. Quem sabe, este hino não será um dia entoado em nossas igrejas...

Salmos do Saltério de Genebra, hinos de procedência alemã e composições modernas integraram este abençoado culto. Ressalto aqui a recente produção de selecionados hinos e seus respectivos compositores, não somente da Europa, mas também da nossa América do Sul.

Como sabemos, esta é a música que conduz as nossas almas em forma mais pura à presença do Senhor. Estes hinos, justamente, constatam sempre características musicais-textuais sacras de qualidade. Temos, portanto uma geração de compositores e autores dotados, alcançando novos horizontes, com mentes abertas, aceitando valiosa bagagem, valiosa história e fundamento vindos do Pai de nossos pais.


Nada de modismos, de baladas ou imitações pop. - Não que seja contra ao rítmo bossa-nova e outros, mas tudo tem o seu lugar, não é mesmo?!

O órgão de tubos é um instrumento também em estilo barroco de 1764, construido por J. Nikolaus Ritter, aluno de conceituado organeiro Silbermann, em excelente estado de manutenção. Instrumento famoso pela qualidade única de som e pelos potentes registros na pedaleira: Baixo-Principal 8`, Sub-baixo 16` e Trombone-baixo 16`.

A membresia desta igreja seguramente enfrenta seus problemas, porém o que muito me impressionou foi a "felicidade reverente" demonstrada pela congregação.

Depois de tocar o poslúdio e agradecer à Deus pelo privilégio e pela benção, logo em seguida pensei em nossos músicos e em como compartilhar estes momentos tão significativos.

Meu sincero desejo é que repassando este relato, possa inspirar motivar e fortalecer o trabalho de meus amados irmãos músicos. Trabalho nem sempre devidamente reconhecido, nunca aplaudido, mas certamente sob a Graça Divina, portando a responsabilidade de uma suprema missão em nossas igrejas brasileiras.

O texto bíblico de Romanos 5:1-5, está relacionado ao mencionado domingo e a semana que se inicia. Dentro do Ano Litúrgico, este é denominado Domingo Reminiszere, signifícando: "Lembra-te, Senhor, das tuas misericórdias e benignidades". Antífona: Salmo 25.6

Em anexo, envio a liturgia e um prospecto referente ao órgão.
Amaru
Karlsruhe, 19.03.2009

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Carta Aberta ao Prof. Dr. Israel Belo de Azevedo.

Caros amigos, professores, alunos, funcionários e ex-alunos

Ontem, dia 19/03/2009 , 18h30 - um grupo de funcionários, profs. e alunos foram até o gabinete do prof. Israel Belo de Azevedo.

Lemos esta carta, entregamos uma Bíblia , por nós alunos e professores e funcionários assinada. Estávamos visivelmente emocionados. Não gostaríamos que saísse. Na realidade o que planejávamos era entregar uma carta pedindo que não saísse, mas ele pediu sua demissão desde o 2º semestre de 2008 e ontem já foi aceito pela CBB.

Ficamos sem ação. Não fizemos isto antes, desta forma, combinados, pois estávamos orando esperando que ele mudasse sua decisão, de acordo com a Vontade de Deus para a sua vida. Então fizemos assim, mas é claro que nós, da comunidade do Seminário do Sul faremos um culto ainda, e prestaremos outras homenagenSuas marcas e influência ficarão, é claro, a maior de todas as marcas do pr. Israel para mim e para muitos, que sem dúvida foi o restabelecimento da capela, dos cultos, da disciplina espiritual que um cristão vocacionado precisa desenvolver.

Nestes tempos (6 anos) o púlpito da Capela foi para a pregação do evangelho e da palavra de Deus, onde muitas vezes, ele se ajoelhava e nós emocionados o seguíamos.

Eu sempre sou muito rápida e meio agitada. Um dia ao entrar na capela já acendendo luz e abrindo as janelas, vejo pr. Israel ajoelhado lá no 1º banco. Foi emocionante. Nunca mais entrei alvoroçada, pois podia encontrar novamente aquele servo de Deus inteligente, que tem uma mente brilhante, dependendo do seu Senhor. Meu maior temor é que percamos este olhar, esta prática.

Ontem dirigi a capela da manhã. Ela estava praticamente com todos os alunos daquele turno (Radical, Missões, Teologia e Teologia integral) e foi um momento muito bom. O detalhe é que as 6h30 já tinha tido o Despertar com Deus (culto diário de oração do CADS). Temos 3 capelas semanais: Terça - tarde e noite e quinta pela manhã. Os cultos não são obrigatórios, mas muitos alunos tem priorizado este Encontro. Temos ex-alunos que sobem a Colina para matar a saudade dos cultos, que não são muito grandes, por causa do tempo entre as aulas, mas que tem oração, cantos, pregação da palavra, oração silenciosa, em duplas e momento de decisão (apelo).

Espero que a interinidade que deve acontecer após 31/03/2009 - será o último dia do nosso diretor geral, nosso reitor - seja breve, segura, firme e sábia.

O novo diretor será o Dr. Josué Salgado, presidente da CBB sendo o executivo Sócrates Oliveira de Souza, que é é o atual diretor executivo da Convenção Batista Brasileira (CBB)

Grande abraço para todos
westh ney

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Carta Aberta ao Prof. Dr. Israel Belo de Azevedo.

Nós, alunos, professores, funcionários, todos que, de alguma forma estamos ligados ao Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil e à FABAT, gostaríamos de expressar-lhe nossa comoção diante da possibilidade de concretizar-se a perda de sua mão diretora, sua palavra sábia, sua proteção justa, sua amizade sincera e seu flagrante amor por essa Instituição que amamos e que a todos nos congrega.

Ela e nós o vimos aqui chegar como criança, ainda; aqui estudar como seminarista; aqui lecionar suas primeiras turmas, concretizando o sonho de sua jovem vida. Muitos de nós, assim como Ela, o vimos assumir a Direção em momento crucial, delicado, difícil, quando um espírito sábio e corajoso era indispensável à manutenção da ordem acadêmica e espiritual da nossa Casa. Nós e Ela o vimos exercendo a função de diretor com mãos calmas, porém seguras, tecendo caminhos novos rumo à modernização da estrutura material e conservação dos ideais da Palavra de Deus em nosso meio. Ninguém que tivesse ficado sem sua palavra de compreensão... Ninguém que se pudesse sentir desamparado, sem sua ação de auxílio e orientação...

Hoje nós o vemos demissionário... O senhor mesmo nos conclama a não termos preocupação, pois a transição será natural e tudo continuará como sempre...

Não, nada mais será como sempre, pois o senhor não estará mais sentado em seu gabinete, para levantar o rosto e dar um aceno quando passamos por ali! Talvez não possamos mais contar com que suas decisões sábias sejam emitidas para sanar problemas, às vezes, tão complexos! Com certeza, talvez o senhor não mais possa nos dizer : "Aprendi com o Pastor Davi Malta a colocar problemas graves na gaveta, para esperar a decisão de Deus, pois há situações que precisam esperar que a voz de Deus se faça ouvir." ou que "Às vezes, o aluno, hoje considerado problemático, virá a ser um ótimo pastor , um homem de espiritualidade, pois ele ainda é muito jovem, está aprendendo!". Ou ainda, diante dos que reclamavam sobre os brincos ou as palavras de acadêmicos, que pareciam tão heréticas: "O coração do homem é que não pode ser herético."; "A Academia é para se estudar a Palavra, a fé do homem é para servi-la."

Talvez o senhor não se lembre de tudo isso... Mas nós , que aprendemos do senhor, temos essas lições como marcas indeléveis em nossa memória... E, por isto, nós lhe pediríamos que "fosse tardo em dizer" adeus, que ficasse conosco um pouco mais de tempo, que adiasse, ainda um pouco mais, sua demissão, que fosse célere em dizer SIM a essa nossa petição!...

Mas, se já não é mais possível ser assim, aqui estamos para trazer-lhe o abraço fraterno, a palavra cristã, o olhar do discípulo admirado, diante do mestre, o coração que chora pela alegria agora magoada de dor!...

Receba a nossa gratidão por tudo de bom que o senhor representou, e ainda representa, para nós e, também, toda a nossa esperança de continuarmos a tê-lo conosco, como amigo, como mestre, como dirigente e pastor de nossas almas!...

Com todo o nosso afeto,
Comunidade do STBSB e da FABAT.

terça-feira, 10 de março de 2009

Seminário do Sul, convite


Aula Magna e 101º aniversário do Seminário do Sul, que será realizado no dia 17 de março de 2009, às 20h30, na Capela. Será o preletor, o pr. Josué Mello Salgado, Presidente da Convenção Batista Brasileira. Rua José Higino, 416, Tijuca, Rio.

Em 16 de agosto de 1891 chegou ao Rio de Janeiro o missionário norte-americano J. J. Taylor. Enquanto pastor da Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro, dirigia, também, um pequeno seminário na sua própria residência. Foi assim que vários dos primeiros pastores das Igrejas Batistas do Brasil receberam a formação teológica.

Em 1907, na cidade de Salvador, durante a primeira Assembléia da Convenção Batista Brasileira, decidiu-se pela criação do Colégio Batista na cidade do Rio de Janeiro, tendo como Presidente o missionário Dr. J. W. Shepard. Já na estrutura inicial do Colégio existia um Departamento Teológico, que no ano seguinte, 1908, receberia o título de Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil.

Em 1936, o Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil tornou-se independente do Colégio Batista, numa sede própria com área total de cerca de 66.000 m2.

Em 1962, o Seminário criou o Curso de Música Sacra e em 1994, implantou o Curso de Educação Teologia Cristã, que em 1999 transformou-se na Faculdade de Ciências da Educação, a qual, atualmente, é nomeada de Faculdade Batista do Rio de Janeiro.

Até o presente momento, o Seminário emitiu mais de 3.000 diplomas - m Música Sacra, em Educação Cristã e em Pedagogia - para vocacionados que vêm exercendo ministérios diversificados em todo o território brasileiro e em vários países dos cinco continentes.

Por seus bancos e por suas cátedras passaram notáveis nomes. Nas estantes de suas bibliotecas encontra-se parte da melhor bibliografia brasileira teológica contemporânea. Nos seus arquivos estão manuscritos, documentos, objetos e fotografias indispensáveis à produção de uma história do movimento evangélico neste país.

O Corpo Docente tem sido constituído, através dos tempos, na sua maioria, de professores Mestres e Doutores.

Hoje o Seminário é administrado pelo Conselho Diretor e tem como executivo o Pr. Dr. Israel Belo de Azevedo, Diretor Geral, que também é professor do curso de teologia. Ele é o pastor da Igreja Batista Itacuruçá (Tijuca, Rio de Janeiro, RJ), e tem 22 livros publicados, o último deles "Apologética Cristã" (editora Vida Nova).


sábado, 7 de março de 2009

Discurso paraninfal - CASA DE ORAÇÃO OU ANTRO DE ASSALTANTES?

Discurso paraninfal do Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho aos bacharelandos em Teologia pela Faculdade Teológica Batista de Campinas, em 7 de março de 2009

Eis o texto de Mateus 21.12-13, na Almeida Século 21: “Jesus entrou no templo e expulsou todos os que ali vendiam e compravam; e revirou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas. E disse-lhes: Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração; vós, porém, fazeis dela um antro de assaltantes”. Não seguirei pelos vários usos deste texto em nosso meio. Analisá-lo-ei á luz do seu contexto. Jesus citou Jeremias, 7, onde o escopo é maior que a venda de bugigangas no templo, coisa, aliás, ainda em voga em nosso meio. Há seitas neopentecostais a vender bênçãos. É lhes raso vender quinquilharias.

Ao citar Jeremias, Jesus foi além do comércio no templo. Este era um dos aspectos da questão. O pano de fundo de Jeremias vivia-se no tempo de Jesus. E no nosso. Bem disse Durkheim: “A única lição que a história nos ensina é que não aprendemos nada das lições da história”. Por isso vejamos o assunto casa de oração x antro de assaltantes.

Casa de oração é a casa de Deus. Antro de assaltantes é o estado espiritual de uma sociedade e igreja doentes. Antro de assaltantes não é banditismo, mas abandono do propósito divino, e estabelecimento do nosso. É recusa da vontade de Deus, que é santa, e estabelecimento da nossa, que, mesmo cheia de boas intenções, é pecaminosa. Antro de assaltantes é o desvio que os homens fazem do propósito divino. Deus queria de um jeito e o povo de outro.

O primeiro sintoma da sociedade e da igreja antro de assaltantes é a confiança na instituição e o desprezo pela conversão. Deus dizia: “Endireitai os vossos caminhos e as vossas ações, e vos farei habitar neste lugar” (Jr 7.3). Era uma chamada à conversão. O povo respondia dizendo: “Este é o templo do SENHOR, templo do SENHOR, templo do SENHOR” (V. 4). À chamada à conversão, o povo respondia com religiosidade supersticiosa. A instituição “templo” lhes era um sinal de que nada lhes aconteceria. Para que conversão? Tinham o templo, tinham religião, tinham a instituição.

O mesmo acontece hoje. Nossa sociedade é religiosa. E também usa a religião contra Deus e seu chamado à conversão. Vivemos numa época de politicamente correto, em que tudo é certo, e todo mundo deve ser acatado. Exigir conversão é ser fundamentalista. É ser radical e intolerante. Afinal, religião, todo mundo tem. E mesmo quem não tem é gente boa, é de Deus.
Deus pedia conversão e o povo respondia com a instituição. Como hoje. “Precisamos de mais instituições, mais escolas e mais área de lazer (a delinqüência juvenil, descobriu-se, é por falta de lazer dos jovens – então, mais lazer para eles)”. Estas coisas são boas, mas são paliativas, e não tocam no fundo da questão. O problema do ser humano, mais que econômico e recreacional, é espiritual. Não é epidérmico, mas vem de dentro. “O coração do homem é mau desde a sua meninice”, diz a Bíblia. Apregoa-se o discurso falido do Iluminismo, da bondade inata do homem, e pensa-se que se criarmos mais instituições, o mundo será melhor.

Quanta ingenuidade no noticiário midiático! Alguém foi ministrar aulas de capoeira numa favela carioca. Surgiram discursos elogiando isto como “resgate da cidadania dos jovens marginalizados pela sociedade”. Com capoeira? Este discurso me soa superficial. Ele não toca na questão fundamental.
Nosso problema não é institucional, é espiritual. Muitos pensadores cristãos facilitam este equívoco. Para eles, tudo tem explicação sociológica, nunca espiritual. Respondem a tudo e tudo interpretam por pensadores seculares, e não pelo evangelho. Pensadores são, mas não pensadores cristãos. Não sustentam a visão cristã. Sua cosmovisão é acristã, se não anticristã. É o triunfo da instituição, o nome que dou, nesta fala, à construção humana. É a recusa à conversão, que é a chamada de Deus.

Nossa editora oficial e a boa parte de nossas instituições (colégios, seminários e juntas) passam por crise financeira. Algumas faliram. Na mesma época que a JUERP (minha editora até o fim) entrou em crise, a CPAD também entrou. Esta se recuperou e é uma editora de peso, com livros de valor. Lembro-me de uma foto publicada em algum lugar (esqueci-me onde) de pastores assembleianos de joelhos, numa reunião da CPAD, na hora da crise. Eles resolveram com oração e a orientação divina que veio em resposta. Nós, quando entramos em crise, criamos um GT, uma comissão, alguma instituição. Sou batista do papo amarelo, mas vejo que nutrimos uma crença ingênua e quase idolátrica em nossas instituições. Fui para o seminário com 19 anos, e discutíamos reestruturação denominacional. Tenho 37 anos de ministério, e estamos discutindo reestruturação denominacional. Quando Jesus regressar, estaremos discutindo reestruturação denominacional. Não será que nossas instituições precisam de conversão, ao invés de mais mudança de nomenclatura e de forma? Por que não uma chamada ao jejum e à oração nacionais pela denominação batista, para Deus remover o que e quem está errado? Por que mais GTs?

Para ficar claro que não estou atacando minha denominação, que amo e na qual quero encerrar minha carreira: há muita igreja antiinstitucional que se tornou instituição, e passou a se valorizar mais que qualquer outra coisa. O fenômeno é mais amplo e atinge muita gente.

O segundo sintoma da sociedade e da igreja antro de assaltantes é a ênfase no culto, na liturgia, e não no caráter. Deus pedia conversão e ética no relacionamento social: a prática da justiça, não oprimir o estrangeiro, o órfão e a viúva, não derramar sangue inocente (vv. 5-6). A seqüência da conversão, falando como cristão, é mais que praticar fórmulas litúrgicas. É deixar que o caráter de Cristo se forme em nós, por obra do Espírito Santo. O povo respondia com sua religiosidade, inclusive o culto a Baal. Como temos cultos hoje! No bairro em que moro há quase cinqüenta igrejas evangélicas. Talvez haja mais igrejas que bares. Só batistas contei oito, num perímetro de cinco quilômetros. Mas que cultos são esses, que adoração é essa, que não produzem retidão nem impacto na sociedade? Muitos cultos são catarse pura. Outros são insanos. Pode-se levar a sério uma igreja cujo credo traga “sapateado de anjos”? Bem, sapateiem os anjos lá e sigamos cá. Uma das razões da destruição de Judá foi a injustiça social, ou seja, o abandono da ética. A adoração que não produz vida correta é mero alarido.

Tenho muitas dificuldades com a liturgia de nossas igrejas. Não agüento mais cantar corinhos ingênuos, de música pobre e de teologia manca. A imaginação é fértil, mas canhestra. Num culto desses, um dia desses, cantou-se um corinho em que as três primeiras sentenças gramaticais não tinham qualquer conexão entre si, cada uma tinha um sujeito diferente e cada uma abordava um tema diferente. Nada entendi. O que me deixou pior foi que as pessoas faziam cara de quem sentia dor, fechavam os olhos, com um ar sofrido, e se requebravam. Aflige-me ouvir, após cada corinho, um sermãozinho sem nexo algum. As coisas deviam ser bem definidas. Quem prega, que pregue, não cante. Quem canta, que cante, não pregue. É duro agüentar sermão de grupo de louvor. Nenhum pensante merece! Mas é moda. Ai do pastor que disser que a maior parte dos corinhos tem música pobre e letra capenga, sem sentido, e que se sustentam só pelo alto volume (barulho é coisa de quem não tem conteúdo) e pelo gestual! Como temos louvor, e como nos falta santidade! Como temos adoração, cultos, templos, e como falta integridade aos adoradores! É a filosofia do antro de assaltantes: mais importância ao culto e à liturgia que ao caráter. Ela mascara a ausência de santidade com ritualística.

Vocês enfrentarão esta mentalidade no ministério. Gente que quererá festa, mas não correção. Que quererá liberdade para fazer o que quer, sem restrição. Que quererá um culto para se soltar e não para aprender as verdades da Bíblia. Quererá adoração, mas não caráter. Muitas igrejas querem festa, mas Deus diz “Para que me trazeis tantos sacrifícios? Estou farto dos holocaustos de carneiros e da gordura de animais de engorda. Não me agrado do sangue de novilhos, de cordeiros e de bode” (Is 1.11). Ele diz que está farto de cultos! E o que deseja ele? “Lavai-vos e purificai-vos; tirai de diante de meus olhos as vossas obras más; parai de praticar o mal; aprendei a praticar o bem; buscai a justiça, acabai com a opressão, fazei justiça ao órfão, defendei a causa da viúva” (Is 1.16-17). Deus quer retidão. Não digo que a liturgia seja hipócrita, mas não aceito que vida cristã seja o que sucede num determinado dia da semana, conduzido por determinadas pessoas, num momento determinado, num lugar determinado, chamado culto. Isto é mais que confundir a casca com o miolo. É confundir o farelo com o pão. É guetizar a igreja.

Vocês não foram chamados para serem animadores de auditório, mas orientadores do povo de Deus. Não foram chamados para ganharem um concurso de popularidade, mas serem fiéis aos propósitos divinos exarados na Bíblia. Não permitam que o antro de assaltantes de uma sociedade festiva vaze para dentro da igreja e a contamine. Não sou contra o culto nem contra cânticos. Repito: Não sou contra o culto nem contra cânticos. Sou contra a bobagem, a superficialidade, a alegria fingida, a manipulação e a ênfase na liturgia mais que no caráter. Vivemos numa época de baixíssimo nível cultural. Hoje não há espaço para um Beethoven, mas para DJs. Não há espaço para um Monet, Picasso, um Di Cavalcanti, uma Tarsila, mas para pichadores, pois dizem que isto é arte. As pessoas não conhecem Machado de Assis, mas BBB. A mediocridade é chocante e invadiu a igreja. A pobreza musical e litúrgica de nossos cultos é desalentadora. Mas algo incomoda mais que a pobreza: o copismo nível cultural do mundo. A igreja não mais vanguardeia, mas copia. O antro de assaltantes de uma crença em que “o que vale é a intenção” entrou em nosso meio. Para Deus não vale a intenção. Vale o certo. Não ousarei definir o que é certo em liturgia, mas defino o que é errado. Tudo que é sensual, que apela aos sentidos físicos mais que ao espírito, que busca satisfazer os anseios ao invés de nos levar a alcançar a perspectiva de Deus para nos, é errado. Se não promove a santidade, mas satisfaz à necessidade de balanço, de meneios, de se soltar, deve ser repensado. Adoração não é catarse. É consciência do Sagrado e quebrantamento diante dele.

Por fim, antro de assaltantes é a confiança em si e em seus deuses. Judá não confiava em Iahweh, mas em Baal, no Egito, na Síria. Fazia seus deuses e se rendia a eles. Os contemporâneos de Jesus não criam nele, mas confiavam na sua visão pessoal. Disse Lutero: “Aquilo em que um homem confia isso é o seu deus”. A sociedade não quer Deus, o Deus Vivo e Verdadeiro, e faz os seus deuses. A igreja de hoje confia mais no poder humano que em Deus. Tem um Deus, mas crê em deuses que ela constrói. Certos planejamentos financeiros, certas abordagens, certas ênfases, certas posturas políticas, certos bastidores, me fazem crer que a crença no poder de Deus é secundária. Apoio a políticos sabidamente sem caráter e lançamento de evangélicos absolutamente despreparados à vida política, e a sofreguidão com que a igreja busca o poder material, seja financeiro ou político, me levam a perguntar: “Em quem cremos, afinal?”. E ainda: “O que queremos com o credo antro de assaltantes?”. Intrigou-me ver crentes brasileiros discutindo o evento Obama com um fervor quase religioso. A mídia falou de “obamania”. Talvez o correto seja “obamalatria”. Já vi este filme antes, com títulos diferentes: “lulatria”, “colloratria”, “tancredolatria”, “planocruzadolatria”. Todos deram errado. Porque toda confiança em homens, instituições e ideologias, além de idolatria, é frustração. Nossa teologia nos ensina a depravação da raça humana, a pecaminosidade total da raça. Mas esperamos socorro do produto da raça pecaminosa. Muitos dos problemas da igreja residem aqui: não levar a Queda a sério. Achar que é uma historiazinha engraçada, a fábula de uma serpente falante, sem considerar seu ensino. O homem tornou-se mau, corrompido e corruptor. O homem é um Midas às avessas. O que Midas tocava se transformava em ouro. O que o homem toca se torna em pecado. Por isso não creio na redenção via instituição. Por isso censuro a festa religiosa sem santidade, sem foco em Deus e com foco no homem. E por isso censuro a visão de que políticos e ideologias podem nos trazer o reino de Deus ou transformar o mundo. Não creio que pecadores inconversos podem nos salvar.

Não estou censurando a visão política. Estou censurando nossa expectativa em messias humanos, em salvadores terrenos. Tenho visto que os olhos da igreja se voltam para mais para a terra que para os céus. Como Nietzsche pediu em uma de suas obras. Aliás, já vi pastor dizer-se apaixonado por Nietzsche. Se o leu não o entendeu...

Deuses terrenos não são misericordiosos. Nada podem fazer, nada fazem, e cobram caro pela não ajuda. Quando aprenderemos o que é depender da graça, o que é confiar no poder de Deus, e esperar sua ação? Quando mostraremos que os valores do reino nos são mais importantes que as moedas dos cambistas? Quando valorizaremos mais a cruz que a mesa do cambista?

CONCLUSÃO
O que Jesus fez no antro de assaltantes? Derrubou as mesas, expulsou os cambistas e proclamou a santidade do templo. Eis o que espero que vocês façam:

1º) Não ponham instituições acima de Deus e dos valores do reino. Não desprezem a conversão, a santidade e a piedade. Não preguem adesão a um grupo social. Preguem conversão. Igreja é mais que instituição. É o corpo de Cristo. Amem-na, valorizem-na, dediquem-se a ela. Vivam para Deus e não para ideologias eclesiásticas.

2º.) Sejam pregadores da Palavra, homens e mulheres da Bíblia. Sejam condutores do povo de Deus, e não animadores de auditório. Evitem o estrelismo e fujam das estrelas do culto. Dobrar joelhos é mais importante que bater palmas. Culto é quebrantamento e não forró. Levem o povo de Deus a buscar seriedade espiritual e não a catarse.

3º) Dependam da graça de Deus. Não aceitem as insidiosas e sutis manifestações de idolatria eclesiástica contemporânea. Sejam “cristomaníacos” e não “qualqueroutracoisamaníacos”.
Derrubem as mesas da profanação do evangelho e afirmem a santidade de Deus!

Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho

CULTO BANCÁRIO

João Pedro Gonçalves

Não resta dúvidas que a liderança da igreja, nos últimos anos, tomou para si a responsabilidade de oferecer um local, um ambiente e uma arquitetura de culto que seja agradável para os visitantes e membros da igreja. Diferentemente de alguns séculos atrás onde o líder eclesiástico tinha que implorar aos fiéis que não fizessem suas necessidades no próprio banco da igreja, mas, que pelo menos o fizessem no chão, hoje, a iluminação, ventilação, temperatura, música, estacionamento, recepção, informação e mensagem têm sido pensados em função de oferecer o melhor para as pessoas.

Em um mundo urbano e industrializado, a vida religiosa ficou espremida a um dia da semana, e, nesse dia, as atividades propriamente religiosas ficaram restritas a poucas horas. Isso, considerando-se uma igreja normal, pois há outra tendência de transformar o ambiente de trabalho como o local do culto também. Em tempos de pessoas sem tempo, trabalha-se oito horas por dia; 4 ou 5 horas por dia são dedicadas à escola. Dependendo da frequencia à igreja, 2 ou 4 horas semanais. Sendo pouco o tempo das pessoas, é preciso elaborar um culto que seja atraente para as pessoas. Ainda mais, quando se sabe que há muitas outras igrejas que concorrem e disputam as mesmas pessoas, inclusive aquelas que já participam da igreja de onde se é líder.

Nesse tipo de engenharia do culto por causa do tempo, parece que há um padrão a ser observado: tende-se a pensar que nada de espiritual acontece entre um domingo e outro. Dessa forma, o culto dominical tem que acontecer de tudo, ser completo em si mesmo. Pressupõe-se a necessidade de se oferecer aos fiéis aquilo que eles precisam. A quantidade, substancialidade e a variedade dos “nutrientes” desse culto são meticulosamente preparados pelos nutricionistas espirituais de plantão, os “neodespenseiros dos mistérios de Deus”.

Essa lógica, porém, é alienante. Em primeiro lugar, porque o culto passou a ser uma peça de estilo estético (roupas, músicas, logística). Confunde, ilusiramente necessidade com agradabilidade, fome e necessidade. Um culto para ser agradável não precisa ser superficial, precisa ser compreensível, somente isso. Em segundo lugar, as pessoas são tratadas como assistentes, expectadoras, passivas, clientes, consumidoras. Dá-se a elas aquilo que pressupõe-se o que elas precisam. Em terceiro lugar, considera-se que as pessoas chegam vazias para o culto, e que o naquele período do culto, numa espécie de culto bancário, serve para reabastecer o emocional, social e espiritual das pessoas. Como aviões abastecidos em pleno vôo, as pessoas vêm, veem, abastecem-se e saem.

A pressuposição de que as pessoas estão vazias é reforçada pela forma que o culto é planejado e feito. De certa forma, essa pressuposição da liderança faz com que as pessoas sejam entendidas como não tendo nada a oferecer, somente receber. No culto bancário oferece-se um produto ao cliente e espera que o mesmo pague – em dízimos e ofertas – pelo produto que recebeu e consumiu. A pessoa vem e recebe um depósito. Chega vazia e sai cheia. Essa lógica está errada porque (também) trata o culto como algo a ser consumido, de fora para dentro e não algo que se vive, de dentro para fora.

Mas, diferentemente do que a Bíblia apresenta e das pesquisas recentes, essa pressuposição se mostra mais uma vez equivocada. Como exemplo, mostra-se (1Co 14.26). Nessa passagem, o apóstolo Paulo tratou de um problema no culto coríntio. O “problema” ali não era que os crentes vinham vazios para o culto, mas o contrário, chegavam cheios. “Que fazer, irmãos”, pergunta o apóstolo, “quando vocês se reúnem, um tem... outro tem... este tem... aquele outro tem... seja tudo feito para edificação”. O “problema” coríntio não era do culto bancário, onde a liderança depositava na cabeça do crente os produtos que, pressupunha-se, eles precisavam.

Em Corinto (e nas outras igrejas neotestamentárias) o culto era realizado no sistema “uns aos outros”. Os irmãos, em diversas ocasiões, são convidados a orar pelos apóstolos; igrejas foram desafiadas a chamarem a atenção dos seus líderes, a ajudarem os líderes nos seus ministérios. O culto bancário é feito no sistema “um aos outros”. Quer dizer, o líder sabe e ensina, tem algo a oferecer e dá aos fiéis; o culto não sabe e aprende. O líder está cheio e enche; o crente está vazio e é enchido. O culto, por isso mesmo, depende da performance da liderança e por ela é julgado. Planeja-se o culto para que as pessoas tenham experiência de Deus naquelas poucas horas de domingo. As pessoas saem com a sensação de que os líderes estão cheios e dividem suas experiências de Deus com as pessoas ali no culto. Em Corinto o problema era administrar o compartilhamento coletivo, pois todos os crentes chegavam cheios. Difícil era gerenciar um culto como esse, onde todos têm algo a dar, a contribuir e compartilhar.

A experiência coríntia segue o mesmo padrão de todo o relato bíblico. Ainda que o mundo urbano e estressante tenham empurrado a vida, a vivência e a experiência espiritual para apenas um dia, Deus não se limitou a um dia somente. É fácil mostrar essa afirmativa. Ao examinar-se o relato bíblico, vê-se que Deus se encontrou com Moisés no horário e ambiente de trabalho; com Abrão foi a mesma coisa: Deus veio ao seu encontro na hora mais quente do dia, enquanto ele estava em baixo de uma árvore. Gideão estava trabalhando no trigo da família dentro de uma caverna. A Jacó, ele se manifestou durante a noite, no deserto. A mãe se Sansão estava cuidando das tarefas da casa. Deus falou com Labão enquanto perseguia seu genro. Deus falou com Cornélio durante a noite, em sonhos, na sua casa. Ele se revelou à mulher de Pilatos em sonhos, em casa (Cornélio e a mulher de Pilatos nem mesmo crentes eram). Deus falou com Paulo em um navio; se revelou a ele em uma prisão. Jesus apareceu aos discípulos no mar, enquanto pescavam, enquanto ainda era escuro.

Recentemente, autores como Dana Zohar (Inteligência espiritual), Nash & McLennan (Igreja aos domingos, trabalho às segundas) têm demonstrado, através de pesquisas, que o padrão bíblico de Deus aparecer aos homens em dias e horários diferentes do dia normal consagrado ao culto tem-se provado com as mesmas características. Pesquisas recentes têm relatado que 7 em cada 10 pessoas tiveram experiência de transcendência, de Deus, em “dias normais”, em casa, na escola ou em horário de trabalho.

Ora, se o padrão atual é o mesmo padrão bíblico como já ficou demonstrado, então os coríntios, então seria o caso de os cultos levarem em consideração que as pessoas, contrariamente do que se pensa e é praticado, que os crentes chegam com experiências pessoais de Deus, e essas experiencias elas tiveram durante a semana, nos dias “normais”. Nada de chegarem vazias. Na verdade, as pessoas chegam cheias e deveriam sair transbordando. Foi assim que o apóstolo descreveu a experiência de ser cheio do Espírito. Ele não pressupunha esse enchimento como algo que acontece no período do culto, mas algo que acontece no dia a dia, na vida normal.

Esse princípio bíblico deveria modificar a visão que os líderes têm das pessoas. Também deveria mudar a estrutura do culto. O culto seria, então, um espaço democrático, um local para se dividir a experiência comum de todos, não um momento performático de alguém; o culto seria mais a prática de uns aos outros, que aparece mais de 50 vezes no Novo Testamento, não, “um aos outros”. Culto é mutualidade, multidirecionalidade, interatividade.

As pessoas poderiam (e deveriam) ser estimuladas a ajustar o “dial” espiritual para perceberem os momentos Deus durante a semana, e, nos cultos, seriam incentivadas a dividir com seus irmãos. Essa experiência do compartilhamento foi descrita pelo salmista Asafe (Salmo 78): “O que ouvimos e aprendemos... o que nos contaram nossos pais, contaremos aos nosso filhos... à vindoura geração”. O resultado dessa mutualidade espiritual resultaria que as pessoas colocariam sua confiança em Deus. O salmista Davi afirmou que, ao compartilhar seus “momentos Deus”, muitos veriam, ouviriam e confiariam no Senhor. O apóstolo João afirmou que o compartilhar as coisas que ele se ouviu e viu traria uma comunhão perfeita entre as pessoas.

As pessoas não estão, necessariamente, vazias em igrejas cheias. Também não é verdade que as pessoas não chegam vazias para saírem cheias dos cultos, ainda que a tendência seja que se considere que as pessoas sejam como recipientes vazios em igrejas cheias. É preciso mudar a cabeça da liderança no preparo do culto. É preciso mudar a concepção que a liderança tem das pessoas em relação ao seu dia a dia e durante o culto. Uma letra do Cantor Cristão já afirmava essa verdade: “Conta as bênçãos, conta quantas são”.

Tratar as pessoas como vazias é diminuir a importância delas. Mas, principalmente, é colocar Deus em uma camisa de força, em um leito de Procusto. Dessa forma, Deus não seria mais o Deus do tempo, mas um demiurgo que se ajusta a duas horas semanais e que se recusou a revelar quando e onde quisesse durante a semana aos seus filhos. Tratar pessoas como vazias e Deus como distante, é indigno das pessoas; é indigno de Deus.

João Pedro é maranhense radicado em Brasília por 30 anos (1979-2009). Estudou Teologia na Faculdade Teológica Batista de Brasília (FTBB) com concentração em Ministério pastoral e música sacra (1984). Estudou Filosofia. Mestre em Ciências da Religião e Doutor em Sociologia. É prof. de Teologia na FTBB e Filosofia da Educação e Filosofia da Linguagem na Faculdade Evangélica de Brasília (FE)