quarta-feira, 12 de julho de 2023

CULTO (I)

                                                                                                 Profa. Westh Ney Rodrigues Luz

 Os que experimentaram o encontro com Cristo e nasceram de novo – não da carne, mas do Espírito – de maneira natural se curvam e se prostram ao maior milagre que é mudança de mente (metanóia). Quando a mudança acontece não queremos que nada nos afaste do desejo de ser sermos submissos ao Criador que nos ama e provoca esse encontro. Não desejamos que nada nos afaste do nosso amor em ação à Deus e aos homens. A mudança que ocorre do encontro com o Eterno, com Cristo, o Redentor, se dá por intermédio do Santo Espírito que toca o mais profundo da nossa alma, nos inquieta e nos faz rejeitar o que não seja puro e nem santo. No encontro com o Eterno, percebemos que estamos diante da mais inexplicável, difícil, misteriosa e significativa experiência. Encontro com o Poderoso, Onipotente, Onisciente, Digno, Justo e Senhor. Encontro com a Água da vida, com o Salvador, o Redentor, o Amigo, o Mestre, o Rei Jesus. Encontro com o sábio Conselheiro, com o Ajudador, com o nosso Guia e Consolador – o Santo Espírito que nos orienta e anima, fazendo que em meio às lutas desta vida saibamos que não estamos órfãos.

Percebemos nessa experiência, que somos atraídos pelo amor de Deus e que nossa resposta depende dessa percepção, como cita o teólogo [1]Nikos Nissiotis, p.17: “O culto não é primordialmente iniciativa do ser humano, mas ato redentor de Deus em Cristo por meio do seu Espírito”. 

 Não estamos falando de culto nos templos. Estamos falando do desejo que a alma tem de se conectar com seu Criador, quando percebe seu amor, não está restrito a um local ou formato.

 

“O culto no templo é apenas um tipo de culto, não o único. Culto é para ser prestado em casa, na rua, no trabalho, onde não é possível vivenciar um cerimonial. A religião deve ajudar o crente em seu culto, não atrapalhá-lo. O templo deve concentrar os que cultuam, mas não ser tido como o único lugar para a adoração”. (prof. Pr. BELO AZEVEDO, 2019[2]


  
Culto é na realidade o encontro do homem com Deus! Culto coletivo é o encontro deste homem com Deus e com seu próximo. O que é culto para você?
 
Paul Hoon, Peter Brunner, George Florovsky, Evelyn Underhill e Nikos Nissiotis [3] falam do culto como auto revelação de Deus (revelação e resposta), como uma estrada de mão dupla, por que é a sua graça e seu amor que evocam a nossa entrega a Deus. Resumindo – qualquer que seja o culto, será sempre a resposta da criatura ao Eterno. E precisamos entender que Ele se doa e ainda nos instiga à uma resposta de forma natural. A revelação de Deus se dá por meio de Jesus Cristo e nós respondemos a ele também por meio de Jesus. E como respondemos? Com tudo que somos e fazemos, com emoções, orações, ações e palavras.

Pode ser que esteja acontecendo em alguns ajuntamentos dominicais algo que esteja possibilitando a não percepção da importância do culto. Coloco aqui algumas indagações para nos levar à uma reflexão:

 

Para quem é o culto? Quem vai receber adoração e louvor? Como vamos fazer para que todos que chegarem ao encontro dominical, percebam a importância do ajuntamento que deve ser “um ajuntamento solene”? Qual a importância e relevância de todos que participam no culto? Será que todos entendem os seus papéis?

Em muitas ocasiões, percebemos que alguns cultos têm se transformado em momentos de entretenimento, de uma alegria exacerbada, sem sentido e fabricada, à procura de uma catarse coletiva ou qualquer outra coisa, menos estar ajoelhado diante do Senhor, rasgando seus corações e almas diante de tão grande amor.

Penso que o que tem acontecido é o desvio na motivação que percebemos em muitos cultos, que equivocadamente, nos levam a desviar nosso olhar da majestade e do amor irresistível de Deus que nos atrai. Parece ser fruto, talvez, de um consumismo exagerado, uma agitação sem sentido, um modelo de vida descartável que se reflete na criação de um estilo de vida de muitos.

 

Sei que essas perguntas nos instigam a uma reflexão e não a faremos agora. Mas, pense e reflita. É assim que fazemos no Seminário do Sul. Estudamos culto à luz da Palavra de Deus e dos grandes pensadores – homens e mulheres – que têm nos seus estudos e explanações teológicas pensado sobre esse momento importante do grande ENCONTRO do homem com Deus na sua comunidade, no seu lar, no seu quarto, no seu coração.

 

Tenho meditado e me debruçado sobre esse assunto que move o meu coração e talvez você já tenha lido algo como o que estou escrevendo agora. Não é que eu seja repetitiva, é que entendo que não posso perder de vista o porquê de estarmos diante do Eterno cultuando.

 

Deus, nosso Pai eterno, nos atrai com seu amor e nós, pecadores, mortais e sujeitos a toda sorte de enganos temos o privilégio de sermos acolhidos na sua doce e santa presença.

Um privilégio, uma honra.

Seja Deus louvado eternamente!

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Fortaleza. Ceará, 11/07/2023

Escrito para o site de música do Seminário do Sul/STBSB.



[1] WHITE, James, p. 17, 1997.

[3] WHITE, James, p. 16-18, 1997.