quinta-feira, 14 de junho de 2012

A MÚSICA NA IGREJA por Westh Ney


Muitas pessoas hoje congregam em uma igreja sem saber quais as suas doutrinas. O conteúdo teológico e até doutrinário é ensinado pelas canções, cantos (hinos ou cânticos) que são veiculados pelas rádios chamadas evangélicas, que promovem cantores que são indicados pelas gravadoras, que os transformam em ícones ou ídolos, promovendo shows.


Há uma confusão reinante, pois se na canção a palavra escrita citou Deus, fé, cruz, fogo vivificador, chuvas e alguns outros símbolos que estão na Bíblia, se os termos bíblicos estão presentes, então é digno de estar sendo cantado no culto, independente da denominação, da igreja. E muitos sem conhecimento das suas doutrinas querem empurrar ou fazer o mesmo em cultos nas suas igrejas locais. Não estou falando de jovens músicos. Estou falando de todos que fazem assim independentes da idade.
 
Tocou na rádio chamada evangélica, apareceu na TV em cultos-shows, achamos que seria bom para a nossa igreja. Tem coisa para ouvir, ficar feliz, alegre, mas nem tudo serve para um culto público. Nem tudo serve para a sua igreja ou mesmo denominação.


Muitos músicos cristãos estão em suas igrejas servindo a Deus e à sua comunidade, entregues completamente nas mãos de Deus, conscientes de como é importante a tarefa que o Senhor Deus colocou em suas mãos. Cantam, tocam dirigem cantos, participam de vários coros, orquestras e bandas, chamadas hoje Gospel.


Aliás, falando em Gospel – este é um termo hoje difundido como tudo o que se refere á algum material religioso, não só música e não somente restrito ao mundo evangélico, por exemplo, existem bandas de outros segmentos cristãos como os católicas que cantam Gospel. A palavra Gospel que dizer "boas novas" e era a música cristã negra nos Estados Unidos da América desenvolvida do velho estilo musical dos Negro Spirituals. Paralela ao Blues, os cantores de música cristã ou Gospel ficavam restritos aos cultos nas igrejas batistas Afro-americana. A música Gospel utiliza solos improvisados e coro.


Nos anos 90 este termo tornou-se, segundo a pesquisadora Dra. Magali do Nascimento Cunha como “uma cultura religiosa nova, um jeito de ser diferente daquele construído pelos evangélicos brasileiros ao longo de sua história. Novos elementos foram adicionados como resposta ao tempo presente, que é fortemente marcado pelas culturas da mídia e do mercado, e pelo crescimento de novos movimentos evangélicos, principalmente o pentecostalismo”. 

Diz ela ainda: “Uso o termo “gospel” para definir esse modo de vida porque ele emerge do fenômeno que ganhou corpo nos anos 90 – o movimento musical que detonou um processo e configurou algo muito maior. Surgiu uma forma cultural, um modo de vida gospel. Ele não é uma expressão organizada, delimitada; mas resulta do cruzamento de discursos, atitudes e comportamentos entre si e com a realidade sociopolítica e histórica. (...) testemunhamos uma ampliação, sem precedentes, do mercado religioso e de formas religiosas mercadológicas (...). Com isso, temos uma nova cultura experimentada, um novo modo de ser evangélico: privilégio à expressão musical, envolvimento no mercado e espaço para o lazer e o entretenimento.” Entrevista na íntegra em  http://www.imbitubagospel.com.br/capa/os-evangelicos-criaram-um-novo-jeito-de-ser-afirma-pesquisadora-confira-a-entrevista/


Ainda mencionando Dra. Magali Cunha, recomendo a leitura da sua tese já editado em livro pela Mauad - “Vinho Novo em Odres Velhos" - Um olhar comunicacional sobre a explosão gospel no cenário religioso. http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27134/tde-29062007-153429/pt-br.php


Para que serve a música? Sim, para que serve a música na igreja? Como encaixar esta música nos serviços de culto?  A música sensibiliza e atrai. Trabalha na emoção, mas música na igreja é um meio e não um fim nela mesmo. É para o louvor a Deus e também para chegar até as pessoas promovendo alívio, cura, prazer...


Em 1984, a AMBB – Associação dos Músicos Batistas do Brasil - escreveu um documento sobre a Filosofia e fundamentos da música na igreja. Este documento tem sido seguido pela maioria dos músicos batistas, que é a denominação que sirvo. Estudei em um Seminário Batista – o Seminário do Sul e todos que por lá passaram desde que o Curso de música Sacra foi criado (há 46 anos) seguem esta mesma filosofia. Este documento diz assim sobre Música Sacra: 

“A música sacra, tanto para o executante como para o ouvinte comunica a realidade de Deus, revela Deus a seus atributos, evoca uma resposta a uma revelação divina  por parte das pessoas e cria condições para facilitar a ocorrência de experiências  pessoas com Deus.


A música na Igreja é uma música funcional. Não é arte pela arte. É Arte com uma função. Assim nós acreditamos. Assim eu caminho. Música na Igreja é para Culto, Adoração, Glorificação e Louvor ao Deus - Pai, Deus- Filho e Deus - Espírito Santo. Música na Igreja é para ensino, edificação e crescimento cristão. É para consolo, conforto, testemunho, evangelização e proclamação da Palavra de Deus.


Há na Bíblia, que a nossa regra de Fé e prática, alguns textos que nos chamam, nos conclamam:  

 “A palavra de Cristo habite em vós ricamente, em toda a sabedoria;ensinai-vos e admoestai-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, louvando a Deus com gratidão em vossos corações.” Colossenses 3.16


“Cantai alegremente a Deus, nossa fortaleza; erguei alegres vozes ao Deus de Jacó. Entoai um salmo, e fazei soar o adufe, a suave harpa e o saltério.” Salmo 81.1, 2

“Que fazer, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com o  entendimento; cantarei com o espírito, mas também cantarei com
o  entendimento.” 1Coríntios 14.15

Repetindo - Música na igreja é arte funcional. Cumpre uma missão. Dar vida aos textos bíblicos ou poéticos que servirão para reafirmar princípios bíblicos, doutrinas. Também servem para consolar, edificar e ensinar.  Música na igreja é ministério e não palco e culto não é o momento para demonstração de performances, ou atuações as mais variadas e desconexas.


Música na igreja é para reforço das doutrinas e complemento da mensagem falada. Como alguém pode fazer música sacra em uma igreja cristã evangélica se não possuem esta fé? Será apenas um trabalho profissional artístico a mais.


Gosto muito desta citação de Campbel Morgan, que pincei do livro - A Cruz de Cristo -de John Stott, grande pregador e que termino o 1º capítulo do livro Culto Cristão – contemplação e comunhão, que diz:


"Só o homem crucificado pode pregar a cruz". Disse Tomé: "A menos que eu veja em suas mãos o sinal dos cravos... não crerei". O Dr. Parker de Londres, disse que o que Tomé disse acerca de Cristo, o mundo hoje está dizendo a respeito da igreja. E o mundo também está dizendo a cada pregador: A menos que eu veja em tuas mãos as marcas dos cravos, não crerei.


Assim penso também. É verdade. Só o homem que morreu com Cristo, pode pregar a cruz de Cristo.   Precisamos ter cuidado para não esquecer o porquê de estarmos servindo ao Senhor Deus com música na igreja. É a percepção do seu amor que nos faz olhar para a sua cruz, e seguir alegres com esta certeza pessoal: "Eu sei que o meu Redentor vive”

Levitas?  Alguns gostam de se identificar assim. Este termo usado no Antigo Testamento para a classe sacerdotal não cabe hoje, como se os músicos de igreja e só eles fossem responsáveis por esta função. Hoje, na nova Aliança somos todos sacerdotes do Senhor. Sacerdotes para ajudar, apoiar a congregação, para levar a sua comunidade religiosa a reconhecer os atributos de Deus (Adoração) e demonstrar isto em cantos, orações, leituras bíblicas, posturas, atitudes que será o seu louvor.


Aliás louvor não é adoração. Louvor é tudo o que você faz como resultado do seu reconhecimento de quem Deus é.  Adorar é curvar-se diante do Eterno, prostrar-se, reconhecendo os seus atributos em completa submissão. Louvor é o resultado desta Adoração. Louvar é o resultado da constatação, do reconhecimento dos atributos de Deus – digno, único, onipotente, onipresente, onisciente, triúno, verdadeiro, justo, benigno, misericordioso...  – agindo em direção ao outro em nome do Senhor. Louvar não é só cantar não. Alguns gostam de pensar que Deus habita no meio da música ou das canções. Deus habita no meio dos louvores. 

Louvor é andar, caminhar com Deus, é ser comprometido com o próximo em nome do Senhor, é ler a sua palavra, é exclamar e declarar a sua Fé, é tocar, é cantar. Muitas palavras que usamos hoje como louvor na realidade elas teriam outras traduções. Vejam como exemplo estas: Yâdâ – substantivo – que pode ser confessar (credo), louvar, dar graças.  Rûn é exaltar; Zâmar, louvar com instrumentos; zâkar é lembrar; kâbed, glorificar. Tôdâ é confissão, confissão de pecados, louvor, ação de graças, oferta de gratidão e sacrifício de louvor (que em Ne 12.8 significa ação de graças). Só por isto podemos perceber que louvor é a nossa adoração em ação: ação de graças, confissão de pecados, confissão de fé e tudo isso pode ser feito em silêncio, lendo ou recitando a Palavra, orando, testemunhando. Louvor é a nossa adoração em ação. É a sua adoração em ação.

Como é a sua Igreja? Bem, então ela tem uma declaração doutrinária que ela, a igreja segue. Você conhece a declaração doutrinária da sua Igreja?  Quero ressaltar, destacar a Bíblia, pois seus princípios registram a revelação que Deus fez em linguagem humana e sua interpretação sempre deverá ser trazida à luz da pessoa de Jesus Cristo e dos seus ensinos.  Sua igreja é assim? Os cantos que ela entoar devem refletir isto.


Mas tem também algo mais. A sua igreja local, está inserida em um bairro, com uma história e com um passado histórico-emocional-cultural só dela. Único. O que outras igrejas cantam, mesmo da sua denominação, talvez não seja o que a sua comunidade religiosa esteja precisando. Já pensou nisto?


Bem, então o que será que devemos cantar? Como cantar? Com nossos cantos ensinamos, doutrinamos, consolamos, proclamamos as verdades de Deus e sua Palavra. Quando cantamos estamos orando junto, dizendo ao Senhor das nossas necessidades e tribulações. Também dizemos ao Senhor do nosso amor por ele. Quando um grupo entende e sente assim, pode ajudar e levar todo o povo a fazer o mesmo. 

Os cantos não podem ser só diretamente também falando a Deus ou Cristo. Eles precisam também falar ao coração do irmão, testemunhando do poder do seu amor. Cantos de comunhão, que falem sobre as nossas diferenças e ao mesmo tempo mostrem que o que nos une é mais forte do que o que nos separa. Somos diversos, mas o Espírito Santo que nos chamou para a Salvação e para a boa obra é o mesmo. Este Espírito de Deus é que nos une em amor.  E onde o Espírito de Deus habita, há amor, bondade, domínio próprio, paz, paciência, alegria, fidelidade, amabilidade. (lembram do fruto do Espírito em Gálatas 5. 22 e 23?).


Vamos cantar a Redenção do homem realizada na Cruz de Cristo. Cantemos este amor que nos faz irmãos, cantemos sobre Jesus e seu maravilhoso olhar e perdão, seus ensinamentos, sua verdade, sua justiça, suas leis e seu caminho que não é tão fácil, mas é o único para a Salvação. Cantemos sobre a presença do doce Espírito Santo que nos guia em toda a verdade, que nos constrange chamando cada ser humano para uma nova vida.

Na Bíblia há exemplos de canções. O cântico de Moisés – Êxodo 15.1-19 – foi o primeiro cântico registrado na Bíblia, após a passagem do mar vermelho. Um canto de vitória e gratidão. Há também o cântico de Débora em Juízes 5. 2-31, o lindo e significativo cântico de Ana - 1Samuel 2.1–10 e o cântico de Davi em 2Samuel 22.2–51 (Leia na sua Bíblia os textos indicados).


No Novo Testamento existe o belíssimo canto de Maria - Lucas 1.46 –56 – que demonstra como aquela jovem conhecia a Palavra, pois seu cântico é baseado no de Ana em 1Samuel 2.1–10 (faça esta comparação). Há o cântico de Zacarias - Lucas 1.67-80; o cântico dos anjos - Lucas 2. 14-19, o cântico de Simeão - Lucas 2.29-32 e muitos pequenos hinos em Romanos, no Apocalipse e o exemplo da importância da música quando Paulo e Silas cantam na meia-noite da vida deles. Esta passagem está em Atos 16.25


Aliás, quando falamos em adoração muitos pensam em louvor, culto no templo, solos, encontros gospel, grandes shows, cantos, muitos cantos... Porque será que confundimos tanto?

A Bíblia diz em João 4.23 que o Pai procura por verdadeiros adoradores que o adorem em espírito e em verdade. Louvor então será o resultado da adoração, pois para adorar e louvar e cultuar, o ser humano precisa ser nascido de Deus e este toque só poderá ser dado através do Espírito de Santo, pois como adorar o que não conhecemos? Em João 4.22 - “Disse Jesus: Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos.”.

Precisamos ter cuidado para não sermos limitadores da vontade de Deus na vida das pessoas, impondo sobre elas regras, maneiras e costumes que consideramos como as mais corretas para adorar, louvar e cultuar. Precisamos entender como é a nossa comunidade. Eles vivem na zona rural? Em comunidades (favelas, morros)? Em zona urbana (asfalto)? Professores, profissionais liberais, ou operários? Adultos, crianças, jovens ou idosos? Quais as suas características culturais? Existem alguns impedimentos ou bloqueios de ordem emocional, psicológica? O que realmente tem significado para as pessoas da sua região, bairro ou cidade? Como é o entorno da igreja, quais os valores religiosos, valores sociais, culturais, os interesses comuns, o cotidiano, os sonhos?

Verifique como anda o seu relacionamento horizontal, isto é com o seu próximo. Muitos esquecem desta dimensão que existe na adoração, fixando seu olhar apenas na direção vertical, que é de contemplação. Nossa visão de Deus precisa nos impulsionar na tomada de atitude de ir em direção do outro, do meu irmão, servindo ao Senhor. Em 1Jo 2.10 e 11 temos: “Se, porém, andarmos na luz, como Ele está na luz, mantemos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado.” Como você tem agido?

 Como posso dizer que amo a Deus? João diz que quem diz que está na luz, mas odeia a seu irmão, este continua ainda nas trevas, na escuridão e não vive na luz, por isto errando o caminho ou alvo para as nossas vidas, pois estamos sem luz. Isto significa que não adiantou falar tudo isto até agora, se não temos Cristo, que é a luz do mundo e não amamos também o nosso irmão.

Que a Graça maravilhosa de Jesus esteja sobre sua vida para guardá-la de todo o mal, ensinando e guiando você para um caminho mais excelente.
Paz de Deus para todos!

Westh Ney Rodrigues Luz , 2012 – Ministra de Música e profª do Seminário do Sul (STBSB/FABAT) nos cursos de Música e Teologia (Gestão de Música na Igreja e Liturgia/Culto Cristão. Formada em Música Sacra, História e Educação Artística (música) e pós-graduanda em ARTES. Regente do Coro Cantares e  Hospital Evangélico do Rio. Membro da Igreja Batista Itacuruçá, Tijuca, Rio - https://www.facebook.com/westh.ney

terça-feira, 12 de junho de 2012

Diante do cálice e do pão

Diante do cálice que minha mão sustém,
penso no sangue que Jesus verteu por mim
e uma vontade de lágrima logo me vem,
mas o Espírito ao ouvido me sussurra assim:
"A morte de Jesus é a sua vida tornada possível;
festeje-a com com a força de uma alegria indizível".

Diante do pão que meus dedos levantam,
penso num corpo dolorosamente esmagado
não pelo dEle, mas pelo meu rebelde pecado,
e lágrimas tristes em meus olhos se plantam,
mas o Espírito com Seu jeito pronto e doce
me lembra o que seria eu, se redimido não fosse.

Então, eu olho para cima para um canto
cheio de gratidão por sacrifício tão imenso,
e o cálice do fruto da vide firme levanto
para radiantemente celebrar amor tão denso
porque para mim, alegremente reconheço,
o sangue de Jesus é presente que não mereço.

Então, eu olho para o lado para um abraço
que deseja ser parte de uma fraternidade
que tem no corpo de Jesus o vigoroso laço
que integra os diferentes numa comunidade
que se reúne para tomar o cálice e o pão
entregues como voluntária doação.

Assim alcançado por este grande mistério,
tiro meus olhos felizes do passado crucial
porque no futuro também sinto refrigério
ao fruir o convite para a eterna festa final,
quando todos entoaremos a mesma melodia
que hoje cantamos com a antecipada ousadia
que brota solene do oferecimento da cruz:
"Digno de receber toda a glória é Jesus".

ISRAEL BELO DE AZEVEDO_ http://www.prazerdapalavra.com.br/reflexoes/poemas.html

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Duas e duras realidades no Rio de Janeiro!

Em uma excursão, um aluno de uma Escola Pública ao acabar de descer a Serra da Grota Funda e ver uma estrada bonita e grande com o Shopping do Recreio e outros prédios perguntou bem baixinho à sua professora, minha amiga:
- Professora, será que eles entendem se eu falar do jeito que falo?

Em outra excursão, da mesma Escola, o ônibus veio pela Av. Brasil e ao avistar o aeroporto o menino gritou todo feliz: - Estamos no Brasil!
Ele conhecia o aeroporto das imagens televisivas das novelas...
E eu chorei ao ouvir estas duas histórias. 
Em julho irei conhecer estas crianças. É de doer!

Ontem estive em  uma outra Escola do Rio de Janeiro, centenária, da rede particular na Zona Sul da cidade. Linda, organizada, bem estruturada, com muitas crianças e muitos cursos extras. Dá gosto andar por lá, por lindos e grandes corredors limpíssimos. Lá existe um Coro lindíssimo. 

Perguntei   à minha amiga que lá trabalha, se eles um dia poderiam cantar na Tijuca para outras pessoas, meus alunos de música  conhecerem aquele lindíssimo trabalho vocal que assisti durante parte da manhã. Ela respondeu  que seria muito difícil por problemas de segurança, permissão dos pais e que eles, na maioria,  nunca atravessaram o túnel Rebouças.

Não conhecem a outra metade da sua cidade...

E cá  estou eu ainda impactada com estas duas realidades educacionais

DECLARAÇÃO DE BERLIM SOBRE ADORAÇÃO

Nós, seguidores de Cristo chamados batistas, provenientes de 58 países, com 500 representantes de 193 convenções e uniões batistas ligadas à Aliança Batista Mundial, reunidos em nossa primeira conferência internacional devotada exclusivamente à adoração, de 15 a 18 de março de 1998, em Berlim, Alemanha, apresentamos a seguinte Declaração para reafirmar nossa compreensão da natureza essencial da adoração e do culto. 

I. Desde nossos começos os batistas sempre temos crido no Deus triúno, declarado na Escrituras como Pai, Filho e Espírito Santo e temos adorado o Deus vivo, como parte integral de nossa herança. Na primeira reunião da Aliança Batista Mundial em Londres, no ano de 1905, Alexander MacClaren convocou os delegados a com ele recitar o Credo Apostólico como testemunho de nossa fé bíblica, dentro da Igreja de Cristo. Reconhecemos Jesus Cristo como o único Cabeça da Igreja e o foco de nossa adoração e louvor. 

II. Afirmamos a necessidade de estarmos abertos à direção do Espírito Santo que nos conduz a adorarmos “em espírito e em verdade”. Todas as formas de cultos constituem “janelas” através das quais vemos a Deus. A ênfase, portanto ( no culto), não deve ser primeiramente sobre os aspectos externos, mas sobre “a prática da presença de Deus”, ao nos apresentarmos como “culto santo e agradável a Deus”. A adoração ou o culto corporativo de todas as formas, será vazio se o indivíduo não estiver espiritualmente envolvido. 

III. Celebramos (neste Congresso) cinco estilos específicos de culto e vimos exemplos de práticas litúrgicas de muitas partes do mundo. Verificamos que cada um deles tem, significado e poder. Também descobrimos que elementos de cada um deles podem ser fundidos de modo a que se produza um culto significativo, alegre e autêntico. Aprendemos a apreciar diferentes expressões e estilos de culto, sem necessariamente adotá-los. É mister que haja discernimento a determinar o que é culturalmente relevante e teologicamente consistente com a Bíblia e nossa fé batista. 

IV. Reconhecemos com alegria e gratidão a Deus o tempo que passamos juntos. Apreciamos o fato de tantas pessoas e igrejas haverem feito sacrifício significativo para participarem da conferência. A despeito de nossas diferenças e grande diversidade, experimentamos unidade sob o Senhorio de Jesus Cristo , e pudemos ter um vislumbre do céu. Esperamos que o aprendido por nós produza frutos em todo o mundo, e que esta conferência não seja um fim, mas um começo.
 

V. Com todo vigor afirmamos a importância histórica da pregação, para os batistas, como aspecto essencial do culto. 

VI. Fomos desafiados pela inadequação de alguns aspectos de nossos culto e adoração, e reconhecemos a necessidade de retomar o espírito do culto da igreja novitestamentária. Precisamos reconhecer: 

1. Que nossa pregação às vezes é desligada do resto do culto, e é dada proeminência ao que proclama a Palavra, e não a Cristo de quem a 
Palavra dá testemunho; 
 
2. Que nossa música tem sido por vezes um show, em vez de meio para 
glorificar a Deus e envolver o povo de Deus no culto; 
3. Que nem sempre compreendemos a grande importância da Ceia do Senhor 
e do Batismo, havendo-os muitas vezes como adendo do culto, em lugar
 de serem partes essenciais dele; 
4. Que às vezes temos negligenciado nossa ênfase batista sobre o 
sacerdócio universal dos crentes, em detrimento de nossa 
comunidade de fé e seu testemunho; 
5. Que nossas orações são por vezes incompletas, ao expressar somente 
nossos próprios pensamentos e necessidades, sem incluir a 
oportunidade  de ouvir a Deus; 
6. Que nossa preparação para a adoração tem sido exclusivamente do que conduzem o culto, em vez de ser responsabilidade de todos que vêm em busca de um encontro com o Deus vivo; 
7. Que nem sempre temos ensinado ao nosso povo o significado da adoração e como adorar. E por vezes separamos do resto da vida o que ocorre no santuário;
8. Que por vezes somos achados culpados de crer que nosso próprio estilo de adoração ou forma de culto são os melhores, e a única forma de adorar, e por vezes temos tentado impor essa opinião sobre outros; 

VII. No reconhecimento do que acima afirmamos, com humildade e contrição buscamos a adoração cuja iniciativa é de Deus, pois Ele nos convida à divina presença e envia-nos ao mundo, para o serviço, discipulado, justiça e reconciliação, em obediência à Grande Comissão de Jesus Cristo. 

VIII. Estamos conscientes, pelo Espírito Santo, que nossa adoração – qualquer que seja seu estilo ou forma, ocorre num contexto maior de adoração em todo o mundo, ao longo da história e no céu. Constituímos apenas uma pequena parte do eterno mosaico de adoração do Deus único e verdadeiro, por meio de Jesus Cristo, Filho de Deus e Salvador. 

IX. Cremos, com toda convicção, que a adoração é um processo vivo. O deus Criador está sempre presente na adoração e, por isso, precisamos de estar continuamente abertos às coisas novas que Deus está a fazer e fará em nós e na Igreja. Afirmamos a natureza dinâmica da adoração, como John Smyth articulou no primeiro Pacto das Igrejas, redigido há 400 anos: “(Comprometemo-nos) a andar em todos os Seus caminhos, dados a conhecer ou a serem conhecidos, conforme nossa melhor capacidade, qualquer que seja o custo, com a ajuda do Senhor”¹.
 

 - Traduzido por Irland P. Azevedo, em 22/05/2002 _ copiado do blog de Petrônio Borges - http://pastorcomciencia.blogspot.com.br/2012/04/declaracao-de-berlim-sobre-adoracao.html

DECLARAÇÃO DE NITERÓI SOBRE ADORAÇÃO


“Oh, vinde, adoremos e prostemo-nos, ajoelhemo-nos diante do Senhor que nos criou” 
                                                              (Salmo 95.6)

Nós, seguidores de Jesus Cristo, chamados batistas, procedentes de dezoito paises, reunidos em Niterói, Rio de Janeiro, de 15 a 18 de março de 2000, sob os auspícios da União Batista Latino-americana (UBLA), com o apoio da Aliança Batista Mundial, vimos apresentar a declaração a seguir, portadora de nossas convicções sobre a natureza e a importância da adoração, da realidade que percebemos e do apelo que fazemos ao povo batista da América Latina.

Nossas convicções

1.    À semelhança de nossos irmãos e irmãs reunidos no Congresso Mundial de Adoração, em Berlim, de 15 a 18 de outubro de 1998, afirmamos nossa fé no Deus triúno e nas verdades expressas no Credo dos Apóstolos. Ao mesmo tempo, consideramos importante reafirmar aspectos fundamentais dessa fé.
2.    Cremos no Deus criador do universo que se revelou em sua Palavra e em Jesus Cristo, e permanece ativo no mundo, na igreja e nos seres humanos, por seu Espírito. Ele é o único que é digno de ser adorado, por seu poder, sua santidade e grandeza de sua obra criadora, sua providência e sua obra redentora a favor do ser humano. Deus está formando um povo que, ao reconhecer agradecido sua grandeza e santidade, a ele honre com sua vida e suas palavras.

3.    Cremos em Jesus Cristo que tomou a forma humana para revelar-nos o amor e o propósito salvador de Deus, e ensinou-nos que a verdadeira adoração consiste na obediência deuma vida consagrada à missão e ao serviço, até a morte. Por sua obra na cruz podemos chegar a Deus e tê-lo como Pai e nos reconhecermos como irmãos, formando um novo povo, cuja comunhão transcende todos os tipos de barreiras e cuja adoração é aceitável a Deus, no nome de Cristo.

4.    Cremos no Espírito Santos que opera em nós para que conheçamos a Deus e o chamemos de Pai, para que em tudo cresçamos como povo seu, segundo o modelo da nova humanidade em Cristo. O Espírito renova constantemente a igreja e a impulsiona ao cumprimento de sua missão. Essa missão sempre começa no ato de adoração, a partir do qual somo enviados ao mundo.

5.    Cremos que o ser humano foi criado para amar a Deus de todo o seu ser. Corrompido pelo pecado, passou a amar e a adorar à criatura e não ao Criador. Redimido por Cristo, o ser humano anela por uma adoração plena, individual e corporativamente, empregando todas as suas faculdades. Por isso, a verdadeira adoração compreende as faculdades intelectuais, emotivas, volitivas, de discernimento moral, corporais e sociais da pessoa, conforme o testemunho das Escrituras.

6.    Para cumprir sua missão de testemunho, proclamação, serviço, comunhão e adoração, a igreja é continuamente renovada e capacitada pelo Espírito. Dessa maneira, de uma cultura para outra, e ao viver em tempos históricos diferentes, a missão da Igreja e sua adoração vão tomando formas diferentes. Ainda que o tesouro do Evangelho não mude, os vasos de barro vão mudando.

7.    Como Batistas, temos como princípios e convicções fundamentais o sacerdócio universal dos crentes, a centralidade da Palavra de Deus na vida da Igreja e o chamado para a santidade de vida e plenitude da missão. Portanto, a mudança de formas culturais e históricas da missão e da adoração da Igreja nunca deverá atentar contra essas convicções fundamentais de nossa fé.


A realidade e nossas preocupações

1.    Estamos conscientes da situação que vivem algumas de nossa igrejas e convenções para as quais a adoração tem sido tema de debate, razão de conflitos e causa de lamentáveis divisões. Os batistas latino-americanos, herdeiros de uma rica tradição litúrgica, estamos a enfrentar mudanças de uma novo tempo caracterizadas, entre outras, por diferentes formas de religiosidade e expressões novas de espiritualidade e de culto. É neste contexto cultural e religioso que nos perguntamos com sinceridade diante do Senhor o que significa adorá-lo “em espírito e em verdade”. Por outro lado, preocupam-nos a decadência moral, a perda de valores e a crise social de nosso continente. Em face da pobreza crescente de nossos povos e das terríveis situações de injustiças, violência e marginalização ficamos a perguntar-nos também que relação existe entre a adoração a Deus e a preocupação social, entre adorar ao Criador e servir a suas criaturas feitas à sua imagem e semelhança, entre adoração e compromisso integral com o seu reino de paz e de justiça.

2.    Há grande diversidade bas formas de expressão de nossa fé comum, e da adoração em nossas igrejas, como pudemos verificar em modelos de cultos oferecidos no Congresso. Essa diversidade ocorre por conta da diversidade de dons, talentos, temperamentos, personalidade e culturas, mas a diversidade de formas não deve comprometer a unidade de nossa fé.

3.    Preocupam-nos, entretanto:

a)    a transformação, com muita freqüência, do culto em “show” e exibição de beleza musical ou de talento retórico, como seu objetivo principal;

b)    por um lado, a “clericalização” do culto, com suas principais funções sendo exercidas por “ministros”, por outro, a informalidade excessiva, a improvisação, a desarmonia e a desarticulação entre as partes do culto;

c)     a hipertrofia dos chamados “momentos de louvor” nos cultos, em detrimento da ministração da Palavra que orienta, santifica, conduz à fé e à vida de compromisso com Deus;

d)    a focalização do culto na pessoa humana, no seu prazer e no divertimento, cambiando a ênfase da ética para a estética, do ser santo para o ser feliz e realizado como pessoa;

e)    a mentalidade competitiva ou de conflito, quando formas ou modelos de culto e adoração, com prejuizo para a unidade da igreja de Cristo;

f)      o tratamento das ordenanças do Batismo e da Ceia do Senhor como apêndice do culto e não como partes essenciais dele, portadores que são das grandes verdades da fé cristã

g)    a ausência da mensagem do Cristo crucificado no púlpito, no ensino cristão, no discipulado e na vida cristã;

h)    a mentalidade consumista presente em muitas igrejas, em detrimento dos valores inestimáveis de nossa fé.

Nosso apelo

Apelamos às lideranças e ao povo de Deus em nossas igrejas:
a)    que haja por parte de nossos líderes, pastores e pessoas envolvidas no ministério da música a busca constante da verdadeira adoração cristã;

b)    que haja o reconhecimento do culto a Deus como experiência vital de todo o povo de Deus que tem de enfrentar o mundo e nele cumprir sua missão reconciliadora. Nenhum outro propósito deve ter o culto;

c)     que haja equilibrio em todos os elementos constittivos do culto cristão, conferindo à Palavra de Deus o privilégio essencial;

d)    que o culto em nossas igrejas se realize centrado em Deus e sua glória, não no ser humano. Temos de buscar a excelência do culto e a integridade de nossas vidas;

e)    que se redescubram a beleza estética do culto cristão, que apele a uma consciência renovada da presença de Deus, as implicações éticas de nossa fé e a afirmação dos princípios espirituais que, como batistas, temos sustentado através da história;

f)      quanto à educação teológica e ministerial quanto à adoração, comece no seio da família, da igreja e continue nos seminários visando à adoração e crescimento de uma liderança íntegra e apta a guiar o povo de Deus;

g)    que como homens e mulheres remidos, a prestar culto a Deus, sejamos dia a dia testemunhas do Senhor, evitando cair no espírito consumista e comercial de nosso tempo.

 Niterói, 18 de março de 2000
A Comissão