sábado, 4 de abril de 2020

CULTOS NOS LARES (CULTO DOMÉSTICO)

                                              Westh Ney Rodrigues Luz
 

INTRODUÇÃO   
                 
 “O Culto Cristão é primordial e essencialmente um ato de louvor e adoração, que também implica grato reconhecimento pelo amor abrangente e bondade redentora de Deus.” (teólogo Florovsky)

Não deixemos que o culto que prestamos ao Senhor seja ele no lar (doméstico) ou no templo e que chamamos de culto coletivo, comum ou público nos desvie do sentido mais importante que é a glorificação e exaltação do nosso Pai amado, da alegria e certeza da redenção em Cristo e da doce presença do Espírito Santo presente sempre como ajudador e consolador.

Somos igreja de Cristo, e nossos cultos precisam ser cristocêntricos. Ao escolhermos hinos ou canções, textos bíblicos não nos esqueçamos de honrar nosso Rei e Salvador Jesus e de lermos e ouvirmos suas palavras. Também não nos esqueçamos que o Culto Cristão acontece quando Deus se revela a nós em Jesus Cristo e evoca a nossa resposta como seres humanos. É uma via de mão dupla. Deus se revela a nós por Jesus e nós respondemos também por meio de Jesus usando várias palavras, atos e emoções. Falemos nos nossos cultos, cultuemos, da melhor forma que todos possam entender. Não esqueçamos nos cultos de relembrar sempre a história da salvação. Relembre que aconteceu e ainda acontece dentro do plano do nosso Deus, pois na plenitude dos tempos, Ele enviou seu filho e, hoje, o seu Santo Espírito nos guia e nos ajuda em toda a verdade, nos ensina a orar, a louvar e a enxugar nossas lágrimas.

Vamos conversar sobre  a importância dos cultos e devocionais pessoais nos lares. Tudo deve ser examinado pensando no seu lar e nas pessoas que participarão dos mesmos. Há dicas e sugestões para lares com crianças, lares sem crianças, pessoas que vivem sozinhas, meu testemunho pessoal e pequeno roteiro trazendo uma forma, sequência, liturgia ou ordem. Tudo pode e deve ser adaptado. 



I - LARES COM CRIANÇAS


 A Bíblia diz em Salmos 127.3, que nossos filhos são herança da parte do Senhor. Sim. Nossos filhos não são nossa propriedade. Recebi de Deus esta grande bênção, que é ter um filho. Com a festa, vem a responsabilidade pela proteção, ensino, alimento, vestimenta, educação etc. E ainda, como mãe cristã - pais ou qualquer outro familiar responsável - precisamos ajudá-las a terem o encontro mais importante da vida - o encontro com Cristo.

Não espere a vida melhorar para você encontrar mais tempo para cuidar do desenvolvimento da vida com Deus na sua família. Isto poderá nunca acontecer. Você pode perder esta oportunidade. Em um piscar de olhos, elas crescem.

Não delegue para outros a oportunidade única, especial e nem sempre fácil de ensinar seus filhos a dependerem totalmente de Deus. Precisamos prepará-los para a vida. Alguns pensam que vida se resume em escola, aulas de idioma, natação, ginástica moderna, rítmica, aulas de violino, piano, judô, crochê, arte culinária. Tudo isso é muito válido, mas o mais importante, o preparo espiritual, e não deve ser relegado.

Alguns responsáveis pensam que se as crianças estão socadas na igreja o tempo todo, a sua parte, o seu compromisso nesta área já está de bom tamanho. Grande engano. Não tem como terceirizar o crescimento espiritual de nossos filhos. O que você faz, diz, ensina, compartilha em casa é que vai ser forte e decisivo para ajudar seu filho a ter comunhão com Deus. Esta fé vivida e experimentada é que dará suporte aos nossos filhos para encarar os desafios, decepções ou tragédias da vida. Não se iluda. Elas virão. Será que seus filhos, e seu Lar estão preparados para o dia difícil? A nossa Fé em Deus, precisa ser real, autêntica, significativa e forte, pois irá nos valer nos momentos cruciais e decisivos.

Não basta só ensinar histórias bíblicas, pois os personagens que ali são retratados parecem demais conosco. Conte para eles como Deus tem abençoado a sua família. Conte os milagres que diariamente a família tem experimentado e recebido do Senhor. As histórias verdadeiras, reais dos avós, pais e responsáveis marcarão sensivelmente a vida das crianças.

II - TESTEMUNHO PESSOAL

Aprendi muito sobre história de grandes heróis da Fé e textos bíblicos importantes na organização para meninas da denominação Batista – Mensageiras do Rei – e nas devocionais do Culto doméstico. Aprendi a confiar e depender de Deus em casa, com minha mãe nesses momentos, nem sempre tão cheios de paz e tranquilos desses cultos diários em nossa casa. Aprendi a depender de Deus quando nos ajoelhávamos mesmo pequenas orando pela nossa irmã caçula que tinha sérios problemas de bronquite. Ali aprendemos a confiar e depender de Deus.

Quando crianças – quatro meninas –, para nosso desespero, às vezes mamãe chamava na melhor hora das brincadeiras para o culto doméstico. Minha mãe lia a meditação da Revista Manancial, cantávamos um ou dois hinos e orávamos. A oração da minha mãe era muito, muito grande. Ficávamos cansados e às vezes uma de nós orava para acabar logo. Fomos crescendo e mudando algumas coisas na estrutura do culto.

Em outra época, usávamos a caixinha de promessas. Essa caixinha ainda é vendida em lojas de artigos religiosos. Ali só tinha promessa e textos bíblicos de encorajamento e ânimo. Só texto positivo. As menores que não sabiam ler não sabiam desse pormenor. Era engraçado, pois as mais velhas tiravam alguns versículos da caixa e liam para os menores. Nem sempre líamos o correto (risos). Trocávamos os versículos só para implicar. Aquele momento era hilariante e o mais usado era Provérbios 6.6 – “Vai ter com a formiga, ó preguiçoso, considera os seus caminhos e sê sábio”.  Guardo grandes recordações delas rindo e resmungando. Eram momentos agradáveis.

O hino mais cantado era o 162CC (386HCC), Vigiar e orar, de autor desconhecido. Esse hino nunca saiu da minha mente e da minha memória afetivo-emocional com uma mensagem de tão grande significação e ensinamento. Minha mãe, Elcy Rodrigues, foi muito feliz em escolher este hino como o oficial da nossa família. Meu pai não era crente e nunca participou destes momentos. Que pena.

 
1. Bem de manhã, embora o céu sereno/pareça um dia calmo anunciar, vigia e ora: o coração pequeno/ um temporal pode enfrentar!

Estribilho: Bem de manhã, e sem cessar, / vigiar, sim, e orar!

2. Ao meio dia, quando sons e brados/ abafam mais de Deus a voz de amor, ao Salvador entrega os teus cuidados / e vive em paz com o Senhor!

3. Do dia ao fim, após os teus lidares, / relembra as bênçãos do celeste amor e conta a Deus prazeres e pesares, / deixando em suas mãos a dor!

4. E, se cessar, vigia a cada instante, / que o inimigo ataca sem parar! Só com Jesus, em comunhão constante/ tu podes sempre triunfar.


Vejam, mesmo que mais nada fosse dito, só este hino por si mesmo diz tudo. Durante alguns momentos do dia, na hora do sufoco, sempre foi impossível não pensar em algumas das estrofes. Já embalei meus filhos com este hino e ao ninar meu neto Gustavo, recém-nascido, hoje com 14 anos, me peguei na ocasião, cantando o velho hino do culto doméstico da minha infância.

Não consegui fazer dessa forma ou maneira, usando esse formato de culto com meus filhos. A época e as circunstâncias eram outras. Também a obrigatoriedade e algumas falas da minha mãe nesses momentos de culto deixaram marcas negativas, como, por exemplo, usar o texto bíblico para castigar ou “bater”, ou enfiar goela abaixo os seus conceitos nem sempre tão fiéis à Palavra. Alguns desses conceitos eram pra dominar e criar um ambiente de culpa e medo, dirigindo e/ou formando a nossa “religiosidade”. Não era por mal. Era o que sabia fazer no desespero de criar 4 filhas, meu pai não era tão presente, e ela a responsável, praticamente sozinha no Rio de Janeiro. Também era o conceito ou modelo da época.

Almoçávamos todos juntos. Essa era a nossa refeição mais importante. Ali conversávamos sobre tudo e afinávamos nossa comunhão e direcionamento familiar. Em todas as refeições orávamos, inclusive as crianças. Ali aprendiam sobre como orar juntos e as crianças também oravam. Toda segunda era dia de comentar o que viram e ouviram na igreja. Era interessante.

Todas as noites ia até o quarto deles e orava na cabeça dos meus filhos, recitando algum versículo. Na casa espalhava um versículo em cada lugar estratégico. Colava versículos no banheiro, nas portas, no beliche. Frequentar a Escola Bíblica dominical e também os cultos eram assuntos inegociáveis. Hoje são líderes em suas igrejas e lares. Um deles é pastor.


III.    FORMA, SEQUÊNCIA, LITURGIA OU ORDEM


1.    Abertura do culto
– um cântico anunciando o culto. Se os familiares não tocam colocar um vídeo ou CD com uma canção religiosa.


2.    Conversa inicial - leve e informal sobre as novidades do dia. Alguns chegam cansados do trabalho ou estudo, alguns estão com um mal estar, etc. Pode ser um momento de saudação e comunhão.


3.    Oração de adoração ao Senhor

 
4.    TEMPO DE CANTAR – cantem hinos ou cânticos conhecidos sugeridos pela família. Nada muito longo. Podem cantar sem instrumentos ou tocados por todos, se a família tem instrumentistas. Se tiverem crianças pequenas, façam chocalhos com dois recipientes de iogurte com feijão ou arroz dentro e ligados por uma fita crepe.


5.    TEMPO PARA LER A BÍBLIA, A PALAVRA DE DEUS - todos os membros da família podem ler um pequeno texto, dividindo os versículos.


6.    TEMPO PARA MEDITAR PALAVRA DE DEUS – podem usar algum diário de devocional com uma pequena história e aplicação.


7.    TEMPO PARA DECORAR A PALAVRA – cada membro da família cita seu versículo preferido, ou todos decoram um versículo novo de acordo com a meditação acima.


8.    Oração de Intercessão – orando pelos familiares, amigos, missionários, enfermos, país e mundo, etc.


9.    TEMPO DE ABRIR O CORAÇÃO - pode ser um testemunho, um pedido de perdão, um momento de confissão. Pode ser também o compartilhar de decisões despertadas durante o culto.


10Canto final e/ ou apenas a oração final de agradecimento/gratidão/ações de graça. Em cada culto devemos agradecer ao Senhor pelos seus feitos poderosos, pela salvação em Cristo Jesus e pela certeza de que seu Santo Espírito nos guia na verdade e no consolo. Além do exame de nós mesmos, sendo somos desafiados para sermos relevantes para Deus, nossa família e mundo em que vivemos. Oremos agradecendo pela casa, pela cama, pelo alimento. testemunhos e compartilhamento

RESUMINDO:

 
1.    Marque um horário e local da casa para o culto. Exemplo: Sexta, 19h30, na varandinha ou na sala de estar, ou no quarto... Decidam e comuniquem se será semanal ou diário.


2.   Cultos leves, participativos. Nada de broncas usando a Palavra de Deus como indiretas para os membros da família. Não é hora para lição de moral.


3.   Deixe que os familiares se expressem. Deixe os filhos falarem.


4.   Deixe que todos possam orar, ler a Bíblia, etc. Nada de textos muito longos e nem discussão teológica sem fim. É um momento devocional.


5.   Lembre-se que estão criando uma tradição que marcará as vidas do seu cônjuge e filhos e demais familiares para sempre. Para o bem ou para o mal, dependendo do nível de estresse que poderá provocar com discussões, broncas e indiretas...


6.  A estrutura ou ordem que enviei acima pode ser alterada segundo as necessidades da família, no momento presente ou especial que estão passando. Muitas vezes algo ou alguma parte pode ser suprimida e outras acrescentadas.

IV – CASAIS SEM FILHOS
 
Se a família é composta só de adultos sem filhos, usem o mesmo esquema acima fazendo adaptações. Pode ser o vídeo de uma pregação para assistirem juntos e depois orarem intercedendo pelos familiares, amigos e o mundo. Se não querem cantar, não o façam. Tenham sempre em casa um período para que algumas músicas religiosas possam ser ouvidas e compartilhadas.

Uma ideia interessante seria o casal escolher um livro interessante e lerem juntos só nesse momento. Cada encontro um capítulo. Esse livro seria só para este momento do encontro devocional do casal.

V – E OS SOZINHOS?


Alguém me perguntou: – E os solteiros que moram sozinhos, como farão? Todo cristão, disciplinado, faz sua meditação diária, que muitos chamam de A sós com Deus ou Hora silenciosa. Esse é um culto individual, assim eu penso.

Tenho uma amiga, musicista, que lê a Palavra e um livro de meditações com histórias de hinos. Canta o hino e ora. Ela está em um relacionamento com Deus, mas penso que ainda está com as pessoas, mesmo sendo só ela e Deus no seu quarto. Quando ora intercede por outros familiares, amigos ou outra necessidade que os membros da sua igreja estejam passando. Ora por missões e outros assuntos envolvendo pessoas. Então ela está cultuando e dentro da definição que gosto de citar: Culto cristão é o encontro do homem com Deus e o outro, e a comunidade.      

CONCLUINDO


Bem, orem e encontrem o formato que melhor se adeque à realidade familiar. Sejam sinceros verdadeiros. Deus os guiará nesse empreendimento – o crescimento da família no conhecimento e partilha das suas emoções juntos, diante do Senhor.

O que vai valer na realidade é a sua comunhão com Deus, que vai servir de exemplo para seus filhos e sua família. Bem, criatividade ajudará muito.

Queridos, Deus pode capacitar cada um de nós e completar as nossas falhas.

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Westh Ney Rodrigues Luz - profª no Seminário do Sul – STBSB, lecionando Liturgia (culto), História da música e Gestão de música eclesiástica e regente do coro masculino. Redatora da revista de música Louvor da editora Convicção da CBB e membro da Igreja Batista Itacuruçá, Tijuca, Rio/RJ onde é regente do Coro feminino Cantares. Mãe de João Marcos Rodrigues Seabra e Felipe Rodrigues Seabra.