segunda-feira, 5 de março de 2012

A vida, a morte... - Rev. Mozart Noronha

Eu não sei o título que o pastor da Igreja luterana de Ipanema deu.MAs escrevo aqui tudo que pude guardar e anotar ontem dia 04/03/2012, no sermão na Igreja Anglicana de Copacabana.


Ele começou falando de Dom Robinson Cavalcanti que foi morto nesta semana em um uma grande tragédia. Falou da sua doçura dele desde criança pois o conhece desde a meninice de ambos.

Falou sobre a Teologia da Cruz que diz que o cristão não está imune ao sofrimento.

Começa então a ler com sua voz calma e pausada a canção -

O Que É, O Que É? Gonzaguinha


Eu fico com a pureza
Da resposta das crianças
É a vida, é bonita e é bonita...

Viver! E não ter a vergonha de ser feliz
Cantar e cantar e cantar
A beleza de ser Um eterno aprendiz...


Ah meu Deus!
Eu sei, eu sei que a vida devia ser
Bem melhor e será mas isso não impede
Que eu repita É bonita, é bonita
E é bonita... E a vida!
E a vida o que é? Diga lá, meu irmão
Ela é a batida de um coração
Ela é uma doce ilusão Hê! Hô!...

E a vida ela é maravilha Ou é sofrimento?
Ela é alegria Ou lamento?
O que é? O que é? Meu irmão...

Há quem fale que a vida da gente
É um nada no mundo
É uma gota, é um tempo
Que nem dá um segundo...

Há quem fale que é um divino
Mistério profundo é o sopro do criador
Numa atitude repleta de amor...
Você diz que é luta e prazer
Ele diz que a vida é viver
Ela diz que melhor é morrer
Pois amada não é e o verbo é sofrer...

Eu só sei que confio na moça
E na moça eu ponho a força da fé
Somos nós que fazemos a vida
Como der, ou puder, ou quiser...
Sempre desejada, por mais que esteja errada
Ninguém quer a morte, só saúde e sorte...
E a pergunta roda, e a cabeça agita
Eu fico com a pureza da resposta das crianças
É a vida, é bonita, e é bonita...

Assim ele começou seu sermão ontem, dia 04/03/2012, na Paróquia Anglicana da Santíssima Trindade (Copacabana). Falou sobre como o compositor popular Gonzaguinha define a existência de forma para paradoxal e ao mesmo tempo com a linguagem poética.

Fala sobre nosso amado poeta e sua morada no Hotel onde hoje é a Casa de Cultura Mário Quintana que diz assim:

“Esta vida é uma estranha hospedaria,
De onde se parte quase sempre às tontas,
Pois nunca as nossas malas estão prontas,
E a nossa conta nunca está em dia."

Cita nosso épico Luis Vaz de Camões que traduziu os anseios do homem renascentista e que no seu poema maior lembra
" ... as memórias gloriosas dos Reis que foram dilatando/
A Fé, o Império, e as terras viciosas/
De África e de Ásia andaram devastando, /
E aqueles que por obras valorosas /
Se vão da lei da Morte libertando,/
Cantando espalharei por toda parte,/
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.

Fez outra citação (talvez Roger de Bussy-Rabutin), não sei se ouvi direito) que diz:
“Amo a morte com o mesmo amor que amo a vida (...)
a morte não é um limite, não é uma negação da vida,
mas dá grande significação à vida”.


Citando Rubem Alves fala sobre o indivíduo que morre, mas em contrapartida a pessoas não. É insubstituível. A pessoa está fora do seu tempo onde não se nasce e nem morre...

Falou sobre a doçura de Dom Robinson Cavalcanti que desde pequeno, junto com ele estudaram em um Colégio interno (acho que em Pernambuco?!) onde não se metia em brigas e discussões. Disse que a sua fé era protestante - Dom Robinson - um protestante anglicano.

Citou na sua palavra o hino que representa a fé que Dom Robinson professava:

“Em nada ponho a minha fé,/ senão na graça de Jesus,/
no sacrifico remidor,/ no sangue do bom Redentor.
A minha fé e o meu amor/ estão firmados no Senhor,/
estão firmados no Senhor".
(A Minha Fé e o Meu Amor de Edward Mote e Bradbury).

Rev. Mozart Noronha diz que a reflexão sobre a morte é uma reflexão.
Citou Romanos 8.26 - que nos mostra como não estamos sós em nossas dores - “Do mesmo modo também o Espírito nos ajuda na fraqueza; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com gemidos inexprimíveis.”

Disse das dificuldades da vida e como o grande hino brasileiro de Antonio de Campos Gonçalves/e da amada Henriqueta Rosa Fernandes Braga- Eu Creio, Senhor, na Divina Promessa - e que está no Hinário Evangélico, Novo Cântico e HCC (283 HCC)

1. Eu creio, Senhor, na divina promessa.
Vitórias já tive nas lutas aqui.
Contudo é verdade que a gente tropeça;
por isso, Senhor, eu preciso de ti.

2. A luz que me guia no escuro caminho
fulgura de cima, do sol criador.
Contudo não posso segui-la sozinho;
por isso eu preciso de ti, meu Senhor.

3. Bem sei que nas preces eu posso buscar-te;
jamais dessa bênção na vida eu descri.
Contudo é possível que dela me aparte;
por isso, Senhor, eu preciso de ti.

4. Esforços da terra, precário destino,
empenho dos homens, riqueza, o que for,
não valem a bênção do reino divino;
por isso eu preciso de ti, meu Senhor.


Citou a dificuldade que temos em palmilhar o vale da sombra da morte mas que tudo que é belo tem que morrer e citando novamente Rubem Alves, fala do tempo completo que é a eternidade. Diz ele – Eternidade é o tempo completo, esse tempo do qual a gente diz: "Valeu a pena". A saudade é o rosto da eternidade refletido no rio do tempo (...) Saudade é a presença de um ausência.

Citou o Senhor Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo aquele que vive e crê em mim nunca morrerá. (João 11.25-26).

Citando Cora Coralina que diz:

“Não sei se a vida é curta ou longa para nós,
mas sei que nada do que
vivemos tem sentido,
se não tocarmos o coração das pessoas”.

Muitas vezes basta ser:
colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta,

silencio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre,
olhar que acaricia,
desejo que sacia, amor que promove.

E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais,
mas que seja intensa, verdadeira, pura enquanto durar.
Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina. "

Voltou a falar de como as coisas belas e importantes morrem e disse sobre na morte embelezarmos a vida com uma rara palmeira que tem no Aterro do Flamengo - Corypha umbraculifera – que vive entre 40 e 80 anos e dá apenas uma florada. Ele disse que passando viu elas todas brancas, flores brancas florindo. Elas morrem estas sementes que vem com as flores semeiam novamente a terra.

Fui pesquisar e aprendi mais sobre esta espécie - “Acima da copa de folhas em leque, que começam a secar e cair, forma-se nova copa, de oito metros de diâmetro, instituída de mais de um milhão de pequenas flores brancas. Quase um quinto das flores oferecem sementes férteis e, cumprida sua parte na tarefa de perpetuação da espécie, a palmeira morre". Algumas palmeiras da espécie Corypha umbraculifera estão florindo no Aterro do Flamengo, onde foram plantadas na época da inauguração do parque, em 1965. A característica dessas palmeiras é que dão apenas uma florada durante toda a vida, que dura entre 40 e 80 anos. Depois da florada ela morre. É a maior florada do reino vegetal.” http://www.estadao.com.br/noticias/cidades,palmeiras-no-aterro-do-flamengo-florescem-e-vao-morrer,471326,0.htm


Disse Mozart Noronha que a vida de cada um de nós não deve ser medida assim – curta ou longa. Ela deve ser intensa. Intensa enquanto durar.

Citou por duas vezes nosso maior músico da cristandade e de todos os tempos – J.S.Bach. E temina assim citando-o:

"Vem Jesus, vem, meu corpo está cansado
e eu agora anseio pela tua paz.
Tu és o caminho correto (...).
Eu confio em Ti,
e em Tuas mãos eu digo: Boa noite.
Apressa Senhor...
minha vida está preparada.

Finalizou assim: Jesus é e continua a ser o verdadeiro Caminho.
Deus abençoe e guarde oo rev. Mozart Noronha e o Pároco da Paróquia Anglicana da SS Trindade em Copacabana - Rev. Carlos Alberto Chaves Fernandes - o amigo e querido Beto -


.....
Este foi um feliz momento para a minha alma queridos amigos.
Como eu precisava daquela liturgia, desta mensagem...

sexta-feira, 2 de março de 2012

Precisamos Falar Sobre Robinson Cavalcanti? Pr André Sant’Anna


Aprendemos com Jesus que somos “sal da terra e luz do mundo”, seguindo esta perspectiva é possível afirmar que uma luz se apagou em Olinda, pois Robinson Cavalcanti, Bispo da Igreja Anglicana e sua esposa Miriam Cavalcanti foram assassinados na noite de domingo dia 26 de fevereiro. O filho adotivo do casal, usuário de drogas, que morava nos Estados Unidos e estava no Brasil há 15 dias, é o principal suspeito de ter esfaqueado o casal.

O Reverendo Robinson Cavalcanti, conhecido por seu envolvimento e engajamento nas questões sociais, não temendo assumir posição em temáticas delicadas tais como política, sexualidade, política eclesiástica e tantas outras, nos desafiou através da sua vida a enfrentar a escuridão da opressão através da luz do evangelho.

Segundo Bauman, sociólogo polonês dos mais respeitados na atualidade, em uma sociedade de consumo o princípio norteador não é o acumulo e sim o descarte. Nesta perspectiva, assim como descartamos celulares, computadores, automóveis, também descartamos notícias e manchetes das mais importantes, para substituir por outras mais recentes e com cheiro de novidade. De modo que por mais entristecidos que estejamos com a morte de Robinson Cavalcanti, o risco é que amanhã esta notícia seja esquecida e trocada por tantas outras que nos são empurradas neste imenso mar de informações.

Precisamos falar sobre o Robinson Cavalcanti, não para transformá-lo em mártir ou mesmo sacralizá-lo, mas sim para que os valores de sua caminhada não se apaguem com sua morte. Gostaria que lêssemos o texto de João 6.1-7 na busca de posturas que são estruturantes na caminhada da igreja de Jesus.

Precisamos falar sobre o Robinson para que sejamos desafiados em meio à escuridão a iluminarmos este tempo quando…

Enxergamos de novo o outro.

Enquanto os discípulos avistam no drama vivido pelo cego apenas um problema teológico e os fariseus embotam a sua cura através do debate sobre os rigores da lei, Jesus ao passar viu o homem.

Por vezes, de tanto ver não vemos mais, não é sem razão que Fernando Pessoa nos convida a recuperamos o olhar pasmado das crianças, que vê tudo como se fosse a primeira vez. De tanto ver deixamos de ver paisagens, monumentos, sofrimentos e tragédias. Jesus viu um homem sofrendo, marginalizado e obscurecido por uma teologia míope.

O psicólogo Fernando Braga, escreve o texto Homens Invisíveis, onde descreve sua pesquisa no campus universitário onde ao utilizar as roupas da equipe responsável pela limpeza e se juntar ao trabalho deles, descobre que se viu dotado de invisibilidade pois até mesmo colegas do curso não o viam mais e nem ao menos o cumprimentavam, assim como os outros. Quantas vezes condenamos as pessoas no caminho à invisibilidade ou as tornamos apenas numa citação em nossos debates. Para que o evangelho seja transformador faz-se necessários que seus discípulos vejam as pessoas para quem compartilhamos a mensagem.

2) Falemos de novo com o outro

Enquanto os discípulos falam sobre o cego, Jesus subverte o debate e fala com ele. Não se trata apenas do conteúdo do que os discípulos discutiam, mas para onde mantém o fluxo de suas palavras. O Mestre nos ensina a falar com os que sofrem, a falar com os que estão marginalizados e permitir que nossas palavras seja esperança para os desencorajados.

No filme Fale com Ela de Almadôvar, o namorado de uma toureira que vê sua mulher em um permanente estado de coma criando assim um distanciamento afetivo, recebe do enfermeiro que passa por uma drama parecido apenas um conselho: fale com ela.

Em muitos momentos a causa dos marginalizados estão em nossos discursos, mas não os convidamos para sentarem-se a nossa mesa e conversarmos com eles. Para que o evangelho seja luz para os que caminham em dias sombrios, precisamos que a palavra seja dada aos que dela precisam.

3) Toquemos de novo no outro

O milagre acontece quando Jesus toca o que está excluído. No toque Jesus encurta distâncias, cria proximidade e compartilha afeto. O ministério de Jesus não é feito em escala industrial para atingir as massas, mas acontece ao atingir singularmente quando alcança cada pessoa com uma espiritualidade artesanal.

Na multiplicação dos pães e peixes, Jesus se sensibiliza com a fome da multidão e opera o milagre. Milagre em Jesus não é pirotecnia evangélica e nem estratégia para atrair multidões, mas resposta ao sofrimento do outro. Cada vez que a igreja age em meio a dor do outro, o milagre já está acontecendo.

No documentário produzido pela HBO, A Paixão, há uma cena onde Jesus coloca a cabeça de um enfermo no colo e começa a limpar as feridas, convidando os discípulos a fazerem o mesmo com os outros. Não há milagre, nada de extraodinário ou quem sabe o milagre seja os homens sendo despertos de sua indiferença e colocando-se a serviço do outro.

Concluindo, de fato a vida é cheia de riscos. Podemos nos ferir ao tentar ajudar o outro ou como dizia Riobaldo, o jagunço herói do romance Grande Sertão: Veredas, “viver é muito perigoso”. Porém, diante dos riscos da existência, dos desafios de exercer o ministério podemos nos encolher amedrontados ou nos permitir sermos guiados pelo Pai.

Adélia Prado, vai orar em seu poema “oh Deus me dá a mão, me dá de novo cinco anos, me cura de ser grande” desconfio que Adélia leu o Salmo 23 onde o salmista diante de uma variedade de cenários: pastos verdejantes, águas tranqüilas e até vales sombrios diz que segue pois “não temeria mal algum, pois Tu estás comigo”. Em meio às avenidas perigosas que estão diante de nós, assim como fez Robinson Cavalcanti, seguremos nas mãos do Mestre e nos deixemos ser guiados por Ele, pois o Senhor nos fará chegar onde precisamos ir. Deus nos conduza em meio à escuridão para que sejamos luz para este tempo!

Pr André Sant’Anna – IB da Redenção – (alosantanna@hotmail.com)
Mensagem na Capela do Seminário do Sul, culto do CADS, dia 29/02/2012
leia mais sobre o evento em http://cadsfabat.wordpress.com/2012/03/02/na-colina-os-sinos-tocam-e-tempo-de-celebracao/

Dom Robinson, a tragédia, e nós.

Esta tragédia que todos já leram e viram nos noticiários - morte violenta do bispo Robinson e sua esposa, à facadas pelo próprio filho (adotivo alguns dizem, mas adotivo é filho!) dói em cada um de nós.

Fico pensando no grande drama familiar que não começou no dia do assassinato mas que ele, o bispo, tinha que lidar e administrar durante anos.

Penso no drama nosso de cada dia.
Penso na vida de cada líder que dirige igrejas, prega, ensina,
escreve, que tem que estar à frente mas que quando chega em casa
a dor, a solidão, a violência, a incompreensão é a sua vida real.
Sei como é isto.
Todos os adultos maduros e conscientes sabem o que é isto.

Deus abençoe todos os que estão à frente, no topo, na vitrine.
Que suas mentes e corações sejam fortalecidos.

Compaixão e misericórdia, força, ânimo, coragem para todos os pais
que amando muito são machucados com
o desamor, com a violência,
com o livre arbítrio de cada um.

abraços
westh ney - http://www.blogdawesth.blogspot.com/
“No essencial - unidade; nas diferenças - liberdade; e em todas as coisas - o amor." (teólogo Peter Meiderlin)

Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil - STBSB/ FABAT, Tijuca - Rio
Licenciatura em Música (com especialização em Gestão de música eclesiástica), Teologia e Pedagogia.
www.seminariodosul.com.br