quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Não se pode perder o foco - Prof. Dionisio Soares

Sermão pregado na Capela do Seminário do Sul - STBSB, em 19/08/2008)

Texto: 1Rs 17 (ciclo de Elias, 17-19)

Introdução:
Contextualização histórica: em 16,29-33 o narrador apresenta o Rei Acabe e sua mulher, a Rainha Jezabel, oriunda de Tiro (país dos fenícios). Ela era filha de um sacerdote da deusa Astarte, o qual havia usurpado o poder em Tiro na mesma época que Amri, pai de Acabe, em Israel. Ambos usurpadores do poder, selaram uma união familiar, cujas conseqüências religiosas são relatadas nos versos finais do capítulo 16 (a introdução do culto a Baal em Israel).
Entretanto, gostaria de concentrar minha atenção na atuação do profeta de Deus, o grande Elias. Assim, destacaremos alguns pontos, brevemente, nesta noite:

1. Elias busca um duelo de poder com o Rei Acabe: é o profetismo de poder

a) Elias anuncia uma seca da qual ele mesmo, depois, se torna vítima. Não há menção da ordem de Deus (apenas a afirmação do profeta acerca de Deus, “a quem sirvo”). Sua pessoa está em destaque: “a não ser quando eu ordenar”.

b) A seca desafiava o poder de Baal: é sabido que essa divindade Cananéia era o mais importante dos deuses, associado à agricultura, à chuva e à fertilidade dos rebanhos. Elias coloca Iahweh em condição de rivalidade com Baal, numa disputa de poder.

c) Claro está que Iahweh é diferente de Baal: mas é esta diferença, ou seja, ser mais poderoso, que Deus quer revelar? Creio que não.

d) Interessante é observar a ruptura que se dá no verso 2: Deus o manda para longe do centro de poder, para Sarepta, à casa de uma viúva, vítima, por seu ato, da seca, com seu filho morto: nada mais forte para representar a fragilidade.

e) Um dos possíveis significados da palavra Sarepta é “purificar”.

2. Elias e seu período em Sarepta

a) É para Sarepta que Deus envia Elias: lá ele entra em contato com as situações corriqueiras do povo: é para isso que ele foi chamado. E nós? A tentação da estrutura de poder é muito forte. É necessário que não percamos o foco. Para que estamos aqui?

b) Como se perde o foco? Por exemplo, quando se adota as mesmas armas do inimigo, suas mesmas estratégias. Elias equiparou Deus a Baal nesta disputa. Não é essa diferença (o ser mais forte) que Deus precisa revelar. Por exemplo, quando você usa a ética situacionista, ou quando se coaduna aos padrões de nossa sociedade secularizada..., ou quando dá um jeitinho para escapar de certas situações... Isso não seria falta de honestidade? Ética? Adotar as mesmas armas do inimigo?

c) Você, estudante: você perdeu o foco? Seu ministério começa aqui; você já é o ministro chamado por Deus. Entretanto, você não pode perder o foco disso. Você não passará a ser ungido a partir do ritual de consagração: você já é ungido, ou não é.

Por exemplo, alunos que entregam atividades que não efetuaram, como se as tivesse efetuado. Isso não seria falta de honestidade? Ética? Adotar as mesmas armas do inimigo?

Como você ensinará ética e honestidade aos seus liderados, aos seus filhos?

O professor que não prepara sua aula (despeja o que está na cabeça), ou passa trabalhos não os lê (dar as notas aleatoriamente), ou o funcionário que não desempenha bem a sua função, mas no dia do pagamento esbraveja pelo seu salário...

Talvez você considere tudo isso uma bobagem, coisas sem importância, mas uma passagem nos Evangelhos afirma que se você não é fiel no pouco, não o será no muito; se você não é honesto com dez reais, não acredito que o será com um milhão!

d) Em Sarepta Elias desempenha o papel de servo autêntico de Deus, reconhecido por uma simples viúva, como Deus queria, diferentemente da resposta do Rei (silêncio): cf. 17, 1 e 24.

e) E o que aconteceu a Elias após a purificação de Sarepta? Voltou às estruturas de poder. Após dois anos, Deus chama Elias e diz que quer mandar chuva sobre a terra.

3. Elias pós-Sarepta

a) O profeta age sozinho novamente: provoca um duelo entre Deus e Baal sem a ordem daquele. Reúne o povo, estabelece um palco: como os profetas que praticam o profetismo de poder gostam de um palco, gostam de aparecer? Como é bom estar na televisão, no rádio... Mas estar num cantão, com uma viúva e um menino morto...

b) Conseqüência: Deus é tentado, manda o fogo desafiado pelo profeta, e este promove uma carnificina por conta própria, nos moldes da Rainha Jezabel (havia exterminado vários profetas de Israel). Mas uma vez, ele se iguala à família real: perde o foco.

4. Elias finalmente se rende à vontade de Deus: reencontra seu foco

a) Elias vai do Carmelo (o monte da disputa pelo poder) ao Horeb, o monte de Deus: refazer a caminhada do Êxodo (inclusive no número: 40), e, escondido numa caverna, finalmente encontra a real vontade de Deus (como já havia ocorrido, no Êxodo, com Moisés).

b) O diálogo com Deus é revelador: após as manifestações violentas da natureza (típicas de Baal, como a tempestade), Deus se manifesta numa brisa suave e leve, mostrando ser diferente daquele deus de Jezabel e Acabe, mas não na força (demonstração de poder), mas em essência.

c) Após provar o gostinho do poder e não se satisfazer (ter perdido o foco), Elias está arrasado, e então consegue ouvir a voz de Deus. Agora sim, Elias está pronto para recuperar o foco.

Conclusão:
É necessário não perdermos o foco:[

a) Não buscarmos o profetismo de poder;

b) Não adotarmos as mesmas armas do inimigo: eu diria hoje, os mesmos valores da sociedade que nos rodeia, a qual não tem compromisso com Deus, mas sim com os Baals da pós-modernidade: ética, honestidade, amor ao próximo acima de tudo...

c) Sigamos o exemplo do próprio Cristo, o qual em nenhum momento buscou o profetismo de poder, mas de simplicidade e humildade.

d) Para isso, é mister largarmos o Carmelo, nos purificarmos em Sarepta, e fazermos a caminhada para o Horeb, para Deus, onde deve estar o nosso foco: é preciso não perder o foco.

Abraços,
Dionísio - dionisiosoares2001@yahoo.com.br

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Prof. Dionisio O. Soares do STBSB, está fazendo seu doutorado “sandwiche” em Yale.
Researcher Fellow
Yale University
Divinity School
409 Prospect St.
New Haven, CT 06511

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