sábado, 29 de novembro de 2008

Como a família pode desenvolver a comunhão com Deus?

“Quando eu ouvia aquele barulhinho na porta do meu quarto, pensava:
- Lá vem ela! E nem adiantava dizer que não queria. Ela vinha com oração, bênção, conselhos ou texto bíblico. Fechava meus olhos, fingindo que dormia, mas ela não desistia; orava assim mesmo nos meus ouvidos, com a mão na minha cabeça”.

 
Ouvi este relato do meu filho caçula, o Felipe quando ele tinha 25 anos e já casado. Tive que rir, pois era assim mesmo. Contei para João Marcos, o filho mais velho, o depoimento e ele riu e disse: -“Eu gostava muito. Era bom.”.

A Bíblia diz em Salmos 127.3, que nossos filhos são herança da parte do Senhor. Sim. Meus filhos não são minhas propriedades. Recebi de Deus esta grande bênção e esta festa alegre que é ter um filho, traz também algo importante junto que é responsabilidade. Responsabilidade pela proteção, pelo ensino, alimento, vestimenta, valores, princípios, educação, etc. UFA!

E como mãe cristã - pais ou qualquer outro familiar responsável pelas crianças - precisamos ajudá-las a terem o encontro mais importante da vida - o encontro com Cristo.

A vida familiar pode propiciar isto ou não. O que às vezes acontece é que nossas atitudes em família diferem do comportamento em público. Alguns líderes são eficientíssimos na igreja, escola, na frente do coro, no escritório, na sua vida em sociedade. Possuem um bom discurso, mas são ausentes no Lar. Os filhos, esses desconhecidos, são relegados a um plano menor e a prática não acompanha a teoria. Como pode isso acontecer se sabemos que toda prática pressupõe uma teoria?  Alguns sabem discorrer sobre grandes temas teológicos, mas não conseguem trazer isto para uma pergunta bem simples e infantil sobre Deus e a existência humana. Aliás, alguns sequer ouvem a pergunta ou quando a ouvem delegam para terceiros a resposta.

Não espere a vida melhorar para você encontrar mais tempo para cuidar do desenvolvimento da vida com Deus na sua família. Isto poderá nunca acontecer. Você pode perder este trem, ou bonde como diriam os mais antigos. Pode também demorar muito e num piscar de olhos... as crianças cresceram!

Não delegue para outros a oportunidade única, especial e nem sempre fácil de ensinar seus filhos a dependerem totalmente de Deus. Precisamos prepará-los para a vida. Alguns pensam que vida é só escola, aulas de inglês, espanhol ou esperanto, natação, ginástica moderna, rítmica, trapézio, aulas de violino, piano, judô, crochê, arte culinária, etc. Tive um aluno que com cinco anos estudava chinês, sem nada que o identificasse com um oriental e o pai me disse que estava preparando seu filho para ser um vencedor. E o menino era triste e sempre encolhido dentro das suas roupas. Presenciei isto, esta grande tragédia familiar, ao longo da minha vida como professora em escolas de pequeno e grande porte, e em classes sociais diversas.  Digo tragédia, pois o mais importante, o preparo ou os valores espirituais têm sido relegados.

Conheci crianças em completo abandono espiritual. Alguns responsáveis pensam que se eles estão socados na igreja o tempo todo, a sua parte ou o seu compromisso nesta área já está de bom tamanho. Grande engano. Não tem como terceirizar o crescimento espiritual de nossos filhos. O que você faz, diz, ensina, compartilha em casa é que vai ser forte e decisivo para ajudar seu filho a ter comunhão com Deus. Esta fé vivida e experimentada é que dará suporte aos nossos filhos para encarar os desafios, decepções ou tragédias da vida. Não se iluda. Elas virão. Será que seus filhos, e seu lar estão preparados para o dia difícil, onde parece que todos os dardos, ou lanças flamejantes estiverem sobre vocês?

Certo é, que nunca estaremos totalmente preparados, mas a nossa Fé em Deus, precisa ser real, autêntica, significativa e forte, pois irá nos valer nos momentos cruciais e decisivos.

Minha irmã caçula, a Débora, foi convocada, por Deus junto com sua família - marido e dois filhos adolescentes, na tragédia que aconteceu em Angra dos Reis, no ano de 2002 – e de uma forma trágica foram soterrados. Eles amavam a Deus de uma maneira especial e Cristo reinava livremente nas suas vidas. Todos eram integrados e participantes no reino do Senhor. Não mediam esforços investindo seu tempo e bens financeiros no reino de Deus. A casa deles estava sempre cheia com muitos amigos após os cultos ou qualquer ocasião. O lar deles era um lugar de festa, amor, alegria e abrigo. A família ultimamente estava com uma maratona linda de leitura de livros cristãos e compartilhavam com alegria suas descobertas sobre a Palavra de Deus.  Quinze dias antes tinham me ligado e todos falaram quase que juntos, vibrando com descobertas na vida cristã. Minha sobrinha – 13 anos - compartilhava o livro sobre vida cristã que estava lendo, com uma alegria impressionante. Ainda hoje, é difícil entender tudo o que aconteceu e por isto me apego na Palavra, onde e só ali poderei encontrar consolação. "Bem-aventurados os mortos, que desde agora, morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem das suas fadigas, pois as suas obras o acompanham." (Ap 14.13).

Agora, em 31 de janeiro de 2017, repentinamente, perdi minha irmã, a Minie Lou, a que nasceu quando eu tinha 3 anos e que vinha abaixo de mim na escadinha familiar, minha companheira há 63 anos. Ainda estou na fase do luto e isto dói muito. Guardo no meu coração nossas últimas conversas. Só eu e ela, deitadas em um colchonete, depois de um churrasco em família e falando sobre experiências e decisões espirituais onde comentávamos da felicidade que é morrer em Cristo e que morrer de um ataque fulminante do coração é interessante. Há uma dor intensa e a pessoa sente rápido isto pois desmaia e do outro lado é recebida pelos anjos do Senhor. Simples assim. Falávamos sobre isto e dois dias depois aconteceu com ela como conversamos. A certeza que ela está nos braços do Pai me conforta, mas ainda dói muito. Apenas 3 meses estou dessa experiência de partida.

Onde aprendi isto? Em casa, com minha mãe, nos cultos domésticos e depois na organização infantil e feminina da denominação Batista – Mensageiras do Rei.

Quando crianças – quatro meninas - para nosso desespero, às vezes, mamãe chamava – na melhor hora das brincadeiras - para o culto doméstico. Minha mãe lia a meditação da Revista Manancial, cantávamos um ou dois hinos e orávamos. A oração da minha mãe era muito, muito grande. Ficávamos cansados e às vezes uma de nós orava para acabar logo. Só que ela acabava em muitas das vezes orando também (risos).  Fomos crescendo e mudando algumas coisas. Em uma época, usávamos a caixinha de promessas. Era engraçado, pois as mais velhas tiravam alguns versículos da caixa e liam para as menores. Nem sempre líamos o correto (risos). Trocávamos os versículos só para implicar. Aquele momento era hilariante e de grande comunhão entre nós e o verso mais usado era em Provérbios 6.6 – “Vai ter com a formiga, ó preguiçoso, considera os seus caminhos e sê sábio”. Guardo grandes recordações delas rindo e resmungando. Hoje todas nós e nossos filhos pertencem a Cristo. Isto não é por acaso.

O hino mais cantado era 162CC (386HCC), Vigiar e orar, de autor desconhecido. O Pr. Alfredo Henrique da Silva, português é o tradutor e a música, do hinário francês - Salmos e cânticos - e que gostávamos muito é da Sophia Zuberbühler. Nunca saiu da minha mente e da minha memória afetivo-emocional a mensagem de tão grande significação e ensinamento. Minha mãe, Elcy Rodrigues, foi muito feliz em escolher este hino como o oficial da nossa família. Meu pai não era crente e nunca participou destes momentos.

1. Bem de manhã, embora o céu sereno
    pareça um dia calmo anunciar
    vigia e ora: o coração pequeno
    um temporal pode enfrentar!

    Bem de manhã, e sem cessar, 
    vigiar, sim, e orar!

2. Ao meio dia, quando sons e brados
   abafam mais de Deus a voz de amor,
   ao Salvador entrega os teus cuidados 
   e vive em paz com o Senhor!

3. Do dia ao fim, após os teus lidares, 
    relembra as bênçãos do celeste amor
    e conta a Deus prazeres e pesares,  
    deixando em suas mãos a dor!

4. E, se cessar, vigia a cada instante,
    que o inimigo ataca sem parar!
    Só com Jesus, em comunhão constante
    tu podes sempre triunfar.

Vejam, mesmo que mais nada fosse dito, só este hino por si mesmo diz tudo. Durante alguns momentos do dia, na hora do sufoco, sempre foi impossível não pensar em algumas das estrofes. Já embalei meus filhos com este hino e no meu papel de avó, ao ninar meu neto Gustavo, recém-nascido, também me peguei cantando o velho hino do culto doméstico da minha infância.

Um dia, na hora do almoço -  sempre orávamos antes da refeição -  era a vez do João Marcos, o meu filho mais velho. Do alto dos seus cinco anos, ele orou e ao final pediu a Deus perdão pela sua multidão de pecados. Chorei de tristeza ao ver meu filho tão pequeno, com um semblante quase angelical falando assim. Fiquei indignada e perguntei onde ele tinha aprendido aquilo. A empregada doméstica, minha ajudadora e que morava conosco disse que deveria ter sido na igreja. Ela afirmou que não orava assim. Nem eu, nem seu pai – que é pastor -  também assim fazíamos. Fiquei pensando e questionando: o que será que estão ensinando aos meus filhos na igreja? Eu tinha mil idéias, conceitos e práticas alternativas para cuidar dos meus filhos e agora alguém despreparado ensina, na classe da EBD que ele tem multidão de pecados? Não, não queria que meus filhos crescessem cheios de culpas e orando com medo para um Deus punidor e repressor.

Estou contando isto, para que possamos estar atentos para tudo que possa formar ou deformar a vida dos nossos filhos, seja em qualquer área.

Graças a Deus a vida cristã do meu filho João é normal. Foi assim que ele me respondeu quando com dezesseis anos, perguntei-lhe por telefone: E aí meu filho, tudo bem? E a fé? Normal mãe, disse ele. E assim tem sido.

Hoje tem 42 anos e sua fé em Deus é firme, constante. Não é de altos e baixos. Natural é ir à igreja ou mesmo dirigir o PG em seu lar -   reuniões tipo Células -, tocar violino nos cultos, ofertar e dizimar com alegria e disposição. Ajuda os que trabalham com ele na sua empresa, facilitando suas vidas economicamente e também falando, testemunhando do amor de Deus. Com seus recursos ajuda muitas igrejas ou pessoas e familiares. Agora, quando estive em sua casa, vi e ele fez questão de me dizer que estava estudando a Bíblia e lendo um livro cristão junto com sua jovem esposa, que aliás já exerceu o ministério de multimídia e hoje é a fotógrafa especial dos eventos da igreja. Vão cedo para o quarto e ali lêem e se divertem com seus livros prediletos, dão gargalhadas compartilhando trechos engraçados. Presenciei diversas vezes eles no quarto escuro das crianças, dos filhos gêmeos, onde faziam uma corrente segurando as suas mãos e cada um tocando no bercinho de cada nenenzinho. Um deles em 2016, Caleb, com 6 anos entendeu a mensagem de salvação e aceitou a Cristo no seu coração.

Ah, o Felipe, aquele do início do artigo, em uma ocasião quando cheguei para dar o beijo e a bênção ele me surpreendeu recitando João 1, inteirinho, de cor. Olhei para ele surpresa, e ele me disse: Mãe, está pensando que só você conhece e estuda a Bíblia? Foi lindo. Ele tinha nove anos.

Hoje, com 40 anos, tem dois filhos. Durante muitos anos, desde a adolescência, foi líder atuante na igreja gostando de pregar, de ensinar. Ele tem o dom de mestre e abençoou sua igreja e muitos jovens que foram mentoriados por ele ao longo da sua vida cristã. Tem apenas dois anos que meu filho Felipe é pastor, não resistindo ao chamado de Deus para um trabalho mais específico no reino. Aprendo muito com ele. Seus filhos desde pequenos oram e dependem de Deus e com esta prática têm experiências espirituais e por isto possuem muita fé em confiança em Deus.  Tudo consequência. Sua esposa, sempre atuante cuida da área social e do berçário onde as criancinhas bem pequenas já oram, mesmo que suas famílias não sejam cristãs.

Bem, já escrevi muito, mas o que vai valer na realidade é a sua comunhão com Deus, pois esta vai servir de exemplo para seus filhos e sua família. Bem, criatividade ajudará muito.

Queridos, Deus pode capacitar cada um de nós e completar as nossas falhas. Creiam. Orem e esperem resultados.

Westh Ney Rodrigues Luz - profª no Seminário do Sul de História da música, Gestão da música na Igreja e Culto Cristão. Redatora da revista Louvor e membro da Igreja Batista Itacuruçá, Tijuca, Rio/RJ

Um comentário:

  1. Maravilha de texto!!! Reflexivo, profundo alerta aos pais e familiares que têm terceirizado a Educação Religiosa Cristã à igreja. É bênção discipular nossos filhos! Hinos preferidos também por minha mamãe!

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