A vida é realmente efêmera e volátil.
A catástrofe nos convence de que perdemos muito
tempo na periferia da vida e não aprofundamos nas áreas centrais.
Dois se foram, mas outros ficaram.
Certamente, procurarão os ombros
de quem já sofreu a dor da perda;
pessoas que tiveram coragem
de indagar a suposta "vontade" de Deus;
lutaram e, muitas vezes, se indignaram;
permanecendo crentes, tornaram-se incrédulas;
mesmo amando, foram consumidas pelo ódio
e amargaram a raiva.
Pessoas que se permitiram,
diante de toda fugacidade de nossas "doutrinas",
construir o próprio caminho
para a reconciliação com Deus.
Nessa estrada asfaltada pela dor, pelo trauma,
pela perda, pelos por quês, pela angústia,
essas pessoas encontram o mesmo Deus,
porém, com faces do tamanho do próprio sofrimento.
O cristão, que realmente é humano,
ao experimentar tamanha tragédia,
precisa passar pelo calabouço reconciliatório
dessa pedagogia processual para que,
diante da ausência de respostas na teoria,
ele possa experimentar o acolhimento de Deus
que desconsidera nossas blasfêmias.
Caso o processo depressivo da dor e da perda
seja sublimado com explicações teológicas apressadas,
corremos o risco de nos tornarmos cristãos na teoria
e ateus na profundidade da nossa alma.
Ou seja, lá onde residimos com sinceridade;
onde as questões não são abafadas;
onde, por vezes, choramos calado,
porque todos ao nosso redor só nos aceitam sorrindo.
Frente ao silêncio da dor, o tempo nunca é nosso,
ele é dominado completamente por Deus.
A fé também brota da dor, do silêncio e
do vazio de nossa frágil existência.
No princípio,
o Nada era simplesmente Tudo de Deus e
todo do som era a Música que
reverberava, como adoração, no Tempo de Deus.
Dell Delambre – Berlim – 09/01/2010
Poesia feita ao receber a notícia da morte trágica de duas pessoas (Idalmo e Tia Mil) de uma família da PIB de Acesita, MG.
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