por Westh Ney Rodrigues Luz
Caros amigos, nestes 15 dias tive uma alegria imensa que só os educadores e artistas entenderão. O encontro de dois alunos com a arte, aquele insight, a absurda percepção de estar diante de uma música e ela tocar a sua alma e ele perceber que está ouvindo é mais que música, deixa qualquer professor muito feliz e realizado.
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1. Antes da Semana Santa, um aluno do 2º ano (baterista e trabalha com bandas) deu um soco na mesa, gritou (berrou) dizendo: - Que som! Puxa, que som! Ele estava em êxtase, seus olhos brilhavam. Tinha terminado o último acorde da abertura, do 1º coro da Paixão Segundo São Matheus de J.S.Bach. Aquela tremenda arquitetura musical barroca para dois coros e duas orquestras tocou sua alma no sentido hebraico – totalmente integral foi sua experiência. A letra era em alemão, mas ele percebeu tudo. Assim é arte. Ela precisa do artista que a faz e de quem a percebe. Então ela é refeita!
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2. Outro aluno da área das bandas, 1º ano, de uma igreja evangélica, não batista, está descobrindo os hinos do HCC. Quer aprender todos e está encantado com as letras e harmonias. Hoje foi a vez dele gritar extasiado quando terminamos de cantar o 208 do HCC – Eu não posso fugir do Teu Espírito - que tem letra e harmonização de qualidade e uma melodia lindíssima. Ele é sempre quieto, presta atenção e fica sempre pensando em tudo que trago para a sala fazendo a ponte com a sua realidade. Fala pouco e hoje descobriu a beleza do hino. Quando a aula terminou, e seus colegas combinavam o culto da Capela do dia 14, ele disse que quer cantá-lo, fazer um solo. O encontro com o Belo com o sublime em arte independe de conhecimento, estilo, faixa etária.
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Estou recompensada por ver e sentir o crescimento dos meus queridos jovens alunos, que sem preconceito, sabem discernir o que é arte e se deixam tocar por ela. Quantos encontros e encantos em cada canto deste Seminário do Sul.
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Rio, ou melhor, dou gargalhadas e me divirto com Débora Feliciano , Ana Luiza Salotto Inácio , Diogo Silva e Anderson Ferreira. Gostam de me imitar e são como as cigarras – adoram cantar. Termino a noite conversando com dois excelentes alunos – Valci Farias e Tiago Pena – sobre spirituals, gospel, blues, jazz, musicais, jazz, monografias e livros. Chega a angolana querida, a Formosa Sangostinho, que alegra o ambiente e seguimos com alma lavada – eles e eu - para nossas casas. Antes de sair, um papinho de saideira com o Theógenes Eugênio Figueiredo.
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O som da minha mala de livros que arrasto pelo campus ecoa por aquele seminário/faculdade vazio e muito frio nestes dias. Todos já tinham ido embora e os poucos seres deviam estar em seus quartos, bem agasalhados. Chamo o táxi e a atendente simpática que só conheço pelo som da voz, é meu último contato humano até chegar em casa, pois o motorista de hoje estava mais do que econômico nas palavras. Ao chegar em casa, Marcelo Leiroz abre a porta e pergunta por que estou sorrindo feliz (nem sabia que estava). Não respondi, só o abracei ainda tocada pela magia de um dia bem vivido.
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E pensar que hoje estava tão cansada e quase desanimada na parte da manhã.
A vida de professora é muito boa.