westh ney
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Marcus
Fui assistir a um concerto hoje e quase tive um troço. Como não o tive, a primeira coisa que eu pensei foi que tinha que lhe relatar o que aconteceu.
O programa era o pujante e imbatível Rundfunkchor Berlin apresentando um espetáculo chamado "Human Requiem", que era apenasmente o nosso muito amado Réquiem Alemão, na versão com acompanhamento de piano a quatro mãos. Só isso já valia o ingresso. Mas o previsível acabou aí.
O concerto não foi num teatro, mas num importante espaço para arte contemporânea montado num galpão gigante na beira do rio. Na entrada, junto com o controle de ingresso, recebemos a instrução para tirar os sapatos. Entra-se na sala e... não há cadeiras. Não há lugar para sentar. Umas quinhentas pessoas em pé num galpão gigante com um piano no meio.
Nada de o coro dar as caras. Os pianistas chegam, atacam a peça e, de repente, as vozes começam a soar. Do lado da gente, no meio do público. O casal que estava do meu lado esquerdo, por exemplo, tão bonitinho, abraçadinho, eram um tenor e uma contralto. Do meu lado direito, um tenor e um baixo até então sentados no chão se levantam. E aquele povo, que não é mais aquele monte de artistas intocáveis, é gente como a gente, vestida
como a gente, começa a circular, olhando o público nos olhos e cantando o magnífico *Selig sind, die da Leid tragen*.
A partir daí, foi uma hora e quinze minutos do Réquiem Alemão mais lindo que eu vi e ouvi na vida. Sem a orquestra para fazer concorrência e com os cantores tão próximos do público, o texto estava mais compreensível do que nunca, e a mensagem chegava direto a cada espectador. O Réquiem Alemão tornou-se realmente *humano*, muito mais intenso do que aquilo que a gente vê no palco quando está sentado na platéia. Com esse conceito, imagine o que não foram as fugas do terceiro e do sexto movimentos, e o final, quando
o coro convida o público, que também passeou um bocado durante o concerto (por isso se tiram os sapatos), a se sentar no chão. Com todo mundo sentadinho, o coro cerca o público todo e solta o *Selig sind die Toten*, com as luzes se apagando até o último acorde, já totalmente no escuro. Depois foi um silêncio interminável, de longos minutos. De dar medo de aplaudir.
Nunca vi um espetáculo que mostrasse uma compreensão tão profunda de uma obra musical e que soubesse transmitir esse conteúdo de uma forma tão original e, ao mesmo tempo, tão respeitosa e tão impactante. E logo de que obra. Esse era o Réquiem Alemão que *você* tinha que ver, e que saberia apreciar mais do que ninguém.
Abraços,
Gustavo
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Vejam a entrevista sobre os ensaios e todo o trabalho de corpo -
Podem ser encontrados mais vídeos com o Rundfunkchor Berlin http://www.youtube.com/user/
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Vejam esta outra interpretação -