sexta-feira, 1 de junho de 2012
DECLARAÇÃO DE NITERÓI SOBRE ADORAÇÃO
“Oh, vinde, adoremos e prostemo-nos, ajoelhemo-nos diante do Senhor que nos criou”
(Salmo 95.6)
Nós, seguidores de Jesus Cristo, chamados batistas, procedentes de dezoito paises, reunidos em Niterói, Rio de Janeiro, de 15 a 18 de março de 2000, sob os auspícios da União Batista Latino-americana (UBLA), com o apoio da Aliança Batista Mundial, vimos apresentar a declaração a seguir, portadora de nossas convicções sobre a natureza e a importância da adoração, da realidade que percebemos e do apelo que fazemos ao povo batista da América Latina.
Nossas convicções
1. À semelhança de nossos irmãos e irmãs reunidos no Congresso Mundial de Adoração, em Berlim, de 15 a 18 de outubro de 1998, afirmamos nossa fé no Deus triúno e nas verdades expressas no Credo dos Apóstolos. Ao mesmo tempo, consideramos importante reafirmar aspectos fundamentais dessa fé.
2. Cremos no Deus criador do universo que se revelou em sua Palavra e em Jesus Cristo, e permanece ativo no mundo, na igreja e nos seres humanos, por seu Espírito. Ele é o único que é digno de ser adorado, por seu poder, sua santidade e grandeza de sua obra criadora, sua providência e sua obra redentora a favor do ser humano. Deus está formando um povo que, ao reconhecer agradecido sua grandeza e santidade, a ele honre com sua vida e suas palavras.
3. Cremos em Jesus Cristo que tomou a forma humana para revelar-nos o amor e o propósito salvador de Deus, e ensinou-nos que a verdadeira adoração consiste na obediência deuma vida consagrada à missão e ao serviço, até a morte. Por sua obra na cruz podemos chegar a Deus e tê-lo como Pai e nos reconhecermos como irmãos, formando um novo povo, cuja comunhão transcende todos os tipos de barreiras e cuja adoração é aceitável a Deus, no nome de Cristo.
4. Cremos no Espírito Santos que opera em nós para que conheçamos a Deus e o chamemos de Pai, para que em tudo cresçamos como povo seu, segundo o modelo da nova humanidade em Cristo. O Espírito renova constantemente a igreja e a impulsiona ao cumprimento de sua missão. Essa missão sempre começa no ato de adoração, a partir do qual somo enviados ao mundo.
5. Cremos que o ser humano foi criado para amar a Deus de todo o seu ser. Corrompido pelo pecado, passou a amar e a adorar à criatura e não ao Criador. Redimido por Cristo, o ser humano anela por uma adoração plena, individual e corporativamente, empregando todas as suas faculdades. Por isso, a verdadeira adoração compreende as faculdades intelectuais, emotivas, volitivas, de discernimento moral, corporais e sociais da pessoa, conforme o testemunho das Escrituras.
6. Para cumprir sua missão de testemunho, proclamação, serviço, comunhão e adoração, a igreja é continuamente renovada e capacitada pelo Espírito. Dessa maneira, de uma cultura para outra, e ao viver em tempos históricos diferentes, a missão da Igreja e sua adoração vão tomando formas diferentes. Ainda que o tesouro do Evangelho não mude, os vasos de barro vão mudando.
7. Como Batistas, temos como princípios e convicções fundamentais o sacerdócio universal dos crentes, a centralidade da Palavra de Deus na vida da Igreja e o chamado para a santidade de vida e plenitude da missão. Portanto, a mudança de formas culturais e históricas da missão e da adoração da Igreja nunca deverá atentar contra essas convicções fundamentais de nossa fé.
A realidade e nossas preocupações
1. Estamos conscientes da situação que vivem algumas de nossa igrejas e convenções para as quais a adoração tem sido tema de debate, razão de conflitos e causa de lamentáveis divisões. Os batistas latino-americanos, herdeiros de uma rica tradição litúrgica, estamos a enfrentar mudanças de uma novo tempo caracterizadas, entre outras, por diferentes formas de religiosidade e expressões novas de espiritualidade e de culto. É neste contexto cultural e religioso que nos perguntamos com sinceridade diante do Senhor o que significa adorá-lo “em espírito e em verdade”. Por outro lado, preocupam-nos a decadência moral, a perda de valores e a crise social de nosso continente. Em face da pobreza crescente de nossos povos e das terríveis situações de injustiças, violência e marginalização ficamos a perguntar-nos também que relação existe entre a adoração a Deus e a preocupação social, entre adorar ao Criador e servir a suas criaturas feitas à sua imagem e semelhança, entre adoração e compromisso integral com o seu reino de paz e de justiça.
2. Há grande diversidade bas formas de expressão de nossa fé comum, e da adoração em nossas igrejas, como pudemos verificar em modelos de cultos oferecidos no Congresso. Essa diversidade ocorre por conta da diversidade de dons, talentos, temperamentos, personalidade e culturas, mas a diversidade de formas não deve comprometer a unidade de nossa fé.
3. Preocupam-nos, entretanto:
a) a transformação, com muita freqüência, do culto em “show” e exibição de beleza musical ou de talento retórico, como seu objetivo principal;
b) por um lado, a “clericalização” do culto, com suas principais funções sendo exercidas por “ministros”, por outro, a informalidade excessiva, a improvisação, a desarmonia e a desarticulação entre as partes do culto;
c) a hipertrofia dos chamados “momentos de louvor” nos cultos, em detrimento da ministração da Palavra que orienta, santifica, conduz à fé e à vida de compromisso com Deus;
d) a focalização do culto na pessoa humana, no seu prazer e no divertimento, cambiando a ênfase da ética para a estética, do ser santo para o ser feliz e realizado como pessoa;
e) a mentalidade competitiva ou de conflito, quando formas ou modelos de culto e adoração, com prejuizo para a unidade da igreja de Cristo;
f) o tratamento das ordenanças do Batismo e da Ceia do Senhor como apêndice do culto e não como partes essenciais dele, portadores que são das grandes verdades da fé cristã
g) a ausência da mensagem do Cristo crucificado no púlpito, no ensino cristão, no discipulado e na vida cristã;
h) a mentalidade consumista presente em muitas igrejas, em detrimento dos valores inestimáveis de nossa fé.
Nosso apelo
Apelamos às lideranças e ao povo de Deus em nossas igrejas:
a) que haja por parte de nossos líderes, pastores e pessoas envolvidas no ministério da música a busca constante da verdadeira adoração cristã;
b) que haja o reconhecimento do culto a Deus como experiência vital de todo o povo de Deus que tem de enfrentar o mundo e nele cumprir sua missão reconciliadora. Nenhum outro propósito deve ter o culto;
c) que haja equilibrio em todos os elementos constittivos do culto cristão, conferindo à Palavra de Deus o privilégio essencial;
d) que o culto em nossas igrejas se realize centrado em Deus e sua glória, não no ser humano. Temos de buscar a excelência do culto e a integridade de nossas vidas;
e) que se redescubram a beleza estética do culto cristão, que apele a uma consciência renovada da presença de Deus, as implicações éticas de nossa fé e a afirmação dos princípios espirituais que, como batistas, temos sustentado através da história;
f) quanto à educação teológica e ministerial quanto à adoração, comece no seio da família, da igreja e continue nos seminários visando à adoração e crescimento de uma liderança íntegra e apta a guiar o povo de Deus;
g) que como homens e mulheres remidos, a prestar culto a Deus, sejamos dia a dia testemunhas do Senhor, evitando cair no espírito consumista e comercial de nosso tempo.
Niterói, 18 de março de 2000
A Comissão
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