Todos morrerão um dia. Ora, isto é claro, e desde que nascemos somos preparados e ensinados sobre a passagem inevitável que todos faremos, que é uma realidade difícil, mas só que saber não é certeza de aceitar, encarar ou não sofrer. A perda pela morte de pessoas que amamos é algo que arrebenta a nossa alma, e por mais que queiramos, é difícil esquecer ou apagar.
E ela - a morte - chega de diversas formas. Alguns são levados por balas perdidas ou assaltos, por doença longa com muito sofrimento ou porque o coração cansa e morrem subitamente – assim foi com meu querido e amado pai – sendo idosos ou não.
Meu avô partiu com 104 anos, mas meu pai foi sem se despedir, aos 73 anos, depois de trabalhar o dia inteiro. Como a vida do meu pai foi importante para mim! Ninguém nunca saberá o quanto ... Minha mente entende, mas meu coração acha que ele ainda era muito novo. Eu, minha mãe Elcy , junto com minhas irmãs – Minie Lou, Dorine e Débora - sofremos muito, e foram momentos difíceis aqueles. Nem desconfiávamos que piores dias nos sobreviriam.
Enquanto o coração ainda cicatrizava, fomos tragadas pela tragédia que invadiu nossa família, quando no vigor da vida perdemos de uma só vez minha irmã caçula Débora Rodrigues Antunes, 41 anos, meu sobrinho Rodrigo Rodrigues Antunes, 20 anos e meu cunhado-irmão Luís Hollandino Antunes, 44 anos, no dia 9/12/2002, quando parte da sua casa desabou durante as chuvas torrenciais que invadiram Angra dos Reis. Eles, os pais, chegaram da Igreja bem tarde, pois estavam ensaiando para o Congresso de adoração, que minha irmã estaria dirigindo na semana seguinte. Rodrigo, meu sobrinho, dormia, e minha sobrinha, a Carol, de 13 anos esperava por eles. Chegando em casa, passado algum tempo e sentindo o perigo, Luís providenciou tudo na maior urgência, correndo para acordar seu filho que dormia tranqüilamente. Não houve tempo para nada, pois a tromba d’água que se abateu sobre a cidade saiu arrastando uma floresta sobre a casa nova que eles tinha construído três meses antes. Como é difícil relatar, escrever sobre isto, mesmo passados dez meses. Minha sobrinha Carol foi socorrida com vida - era costume minha irmã ler a Bíblia com a filha – pois sua mãe caiu por cima dela, ficando a Bíblia entre as duas.
Enquanto Carolina lutava no hospital em Angra, nós nos apegávamos à idéia de estarmos equilibrados - parecia que iríamos enlouquecer de tanta dor – para poder cuidar dela, cercá-la de todo amor e criá-la como minha irmã desejaria. Respirou por aparelhos, ficou em coma induzido para não sentir dor. Cada dia o quadro foi piorando, rins, pulmões, mas a nossa fé estava inabalável, pedindo a Deus que cuidasse dela e fizesse a sua Santa vontade na vida daquela menina serva de Deus que adorava o Senhor com danças, ministério este que levava muito a sério.
No dia 23/12, Carol fez 14 anos no hospital, e no dia seguinte, às 18h, ela partiu para junto de Deus. Disse para o médico que a assistiu nos momentos finais que gostaria de estar junto com seus pais, pois lá era melhor. Na manhã de Natal de 2002, lá estávamos nós no culto fúnebre de Carolina, a nossa menina, cantando e chorando na nossa meia-noite, apesar de ser apenas 11horas de uma manhã muito triste.
Existe uma razão? Perguntas, indagações assolam nossas mentes, pois queremos entender o que nunca aceitará nosso coração. E a única certeza vital para mim ao enfrentar aquele momento é que estou nas mãos de Deus. A verdade é que a única certeza em um momento de dor tão pungente, profundo - quando você é cristão realmente - é a da presença do Senhor, e isto será a realidade mais marcante, e isto sim, fará a diferença maior, pois é neste momento que poderemos provar para que serve a nossa fé. A notícia da morte ainda nos deixa perplexos, mesmo sabedores que somos finitos; mas por mais dura que seja a situação vivida, precisamos ter a certeza de que Deus está no controle de tudo. Ah, como é necessário muita fé para entoar um bendito como o povo de Israel fazia em todos os momentos: "Bendito seja o Senhor que, dia a dia, leva o nosso fardo! Deus é a nossa salvação" (Sl 68.19).
Sei que vamos sobreviver, " ... pois o necessitado não será para sempre esquecido, e a esperança dos aflitos não se há de frustrar perpetuamente (Sl 9.18). Precisamos vigiar para que não sintamos que fomos traídos por estarmos sofrendo, ou sentir que fomos desamparados pelo próprio Deus. Pode ser que você tenha sido ensinado que, como crente nunca sofreria , não perderia bens, empregos, familiares ou saúde. E se assim acontecer, não deixe a desilusão tomar conta da sua alma por ter aprendido que nada de mal afligiria os filhos de Deus. Como eu gostaria que você não sofresse... Pense: nosso Deus é muito maior do que pensamos, e então você pode ficar consolado, mesmo com saudades, quando entrega sem reservas a sua dor ao Senhor. Sei que é muito difícil fazer isto de verdade e também sei quão difícil é explicar o sofrimento do ponto de vista humano; mas se pudéssemos aquietar nosso coração e esperar no Senhor ...
Querido leitor, saiba que qualquer palavra nunca será suficiente para suavizar a dor da separação ou mesmo a dor visceral que toma conta do nosso corpo em um momento como este, mas a Palavra de Deus, vinda através dos amigos e irmãos, vem fortalecer o pensamento de que a paz de Deus precisa nos valer. Veja que bela oração é o hino 68HCC, 2ª estrofe: "Sem o teu alento, forças não terei / e ao meu sofrimento não resistirei./Tua mão fraterna minha vida conduz./ Esperança eterna; tudo és tu, Jesus.
Experimente o consolo, a certeza que vem da carta aos Romanos 11:33-36, quando o apóstolo Paulo entoa o seguinte hino de adoração ao Senhor: "Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos! Porque, quem compreendeu a mente do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado? Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém". A minha dor ainda não cicatrizou e digo para vocês que de vez em quando vai doer... Mas isto só dá em gente... e gente que ama muito.
Eu nunca desanimo e nem deixo de lutar, mas a vida também segue seu rumo, e somos empurrados - literalmente - para nossas atividades de subsistência de modo que esquecemos de nós mesmos e de que existe um tempo de luto, até para uma reflexão; mas o corpo sente, então, que precisamos também do silêncio absoluto, do tempo da reflexão e do chorar. O problema é que muitas vezes precisamos consolar nossos familiares e então parece que crescemos além do sofrer; mas sempre chega "a noite", chega a nossa hora de estar dentro da nossa caverna.
Sabe, logo no início fazia como Elias, quando Deus lhe disse para reagir: Levantava, me alimentava, e saía para fazer o que precisava ser feito. Mas, sempre durante o dia surgia um momento em que precisava parar e ficar em repouso, escondida, pois era o momento crucial, quando as lembranças invadiam a alma. Dormia e saía pra trabalhar à noite. Em alguns momentos dormia somente por duas horas e é lógico que o corpo doía todo no dia seguinte e os pensamentos ficavam mais lentos. É preciso um cuidado redobrado para não adoecer, pois o sofrimento também acaba diminuindo a imunidade do corpo. Mas, Deus é e sempre foi em outras ocasiões a minha torre forte; faz-me lembrar de que sou humana, e, de que preciso parar. Parar para manutenção.
Sou a irmã mais velha e ela, a Débora, a caçula - que vi nascer literalmente, pois o parto foi em casa, e junto com meu pai fomos chamar a parteira - sendo a diferença de idade entre nós de 10 anos e nosso relacionamento mais do que irmãs. Levei-a para as vacinas, escola, ensinei piano, puxei orelhas, coloquei de castigo, aconselhava, marcava colado como qualquer mãe faria. Estive presente em reuniões de escola , entrega de boletim, providenciando documentos, passeando com ela, cursos de teatro... Para o seu casamento fiz dois grandes bolos – doce e salgado - cuidei da cerimônia, regi o coro. Foi minha grande ajudadora com meus filhos pequenos, me fazendo companhia. Vi seus filhos nascendo e minha casa era o porto de carinho e amor que eles sempre tinham e onde podiam estar.
Duas semanas antes de Deus convocá-la, ela me ligou e disse para eu não morrer e me cuidar, pois não resistiria se tal acontecesse, pois eu era a mãe que ela sempre desejou ter e que precisava muito do meu colo. Foi a última vez que nos falamos e por telefone ... Como eu desejaria estar com ela agora e dar-lhe muitos beijos e colos ! Sei que o tempo e a graça de Deus irão me ajudar.... Sei também que o Espírito de Deus , o Consolador, me ajudará a enfrentar e elaborar essa perda... Sei que Deus concederá paz ao coração da minha família, no tempo certo.
Sei e confio, pois na Palavra de Deus encontro as suas promessas e me uno ao salmista dizendo: "... dirão todos os cantores e tocadores de instrumentos: todas a minhas fontes estão em ti." (Sl 87.7); "Preciosa é à vista do Senhor, a morte dos seus santos." (Sl 116. 15); "Porém eu cantarei a respeito do teu poder; de manhã louvarei bem alto o teu amor, pois tu tens sido uma fortaleza para mim, um refúgio nos meus dias de aflição." (Sl 59.16); "O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã." (Sl 30.5) . Aliás, quando tudo aconteceu, minha mãe ficava andando pela casa, com a Bíblia aberta, lendo em Isaías 57.1: "Perece o justo, e não há quem considere isso em seu coração, os homens compassivos são retirados , sem que alguém considere que o justo é levado antes que venha o mal."
Eles amavam a Deus de uma maneira especial e Cristo reinava livremente nas suas vidas. Todos eram integrados e participantes no Reino do Senhor. Não mediam esforços investindo seu tempo e bens financeiros no Reino de Deus. A casa deles estava sempre cheia com muitos amigos após os cultos ou qualquer ocasião. O lar deles era um lugar de festa, amor, alegria e abrigo. A família ultimamente estava com uma maratona linda de leitura de livros cristãos e compartilhavam com alegria suas descobertas sobre a Palavra de Deus. Ainda hoje, como é difícil entender tudo o que acontece e por isto me apego na Palavra, onde e só ali poderei encontrar consolação . "Bem-aventurados os mortos, que desde agora, morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem das suas fadigas, pois as suas obras o acompanham." (Ap 14:13)
Recebi muitas mensagens de carinho tentando consolar . Algumas muito boas e outras que caíam no vazio, pois colocadas de forma não muito feliz, como: " ...vai passar...; não chore, eles já estão com o Senhor ; ... você vai encontrar com eles no céu; ...com o tempo, vai diminuir a dor! ; ...eram crentes? que bom, então já estão com Deus ! ... foi a vontade de Deus..." Precisamos estar atentos para não ficarmos repetindo frases decoradas e sem sentido, pois quem está sofrendo não precisa de muita coisa. Precisa apenas de abraço sincero em silêncio.
Sentir, ouvir os lamentos, enxugar as lágrimas, chorar e orar junto são expressões de solidariedade que fazem muito bem. Recebi palavras que soaram como jóias ao meu coração, como: "Sabemos que o bom Deus há de consolar seu coração...; choro com você; ..vou orar por você e seus familiares; ...estou à sua disposição se desejar minha ajuda, pode contar; ...quando tiver vontade de chorar, não se reprima; .. se quiser um ouvido, olha o meu telefone aí embaixo...
Li alguns livros que tinha comprado para ajudar minhas amigas enfermas e familiares em outras situações - pois aqui em casa, no espaço de 2 anos estávamos enterrando pessoas queridas de 6 em 6 meses - mas não podia imaginar que seriam úteis para mim em mais um momento de tristeza, que foi esta tragédia. Eis os livros: O nominável e o inominável., Mannoni, ed. Zahar ; Enfrentando a morte, J. Bayly, ed. Mundo Cristão; Quando alguém que você ama está morrendo, Drª Ruth Kopp, ed. Juerp; Quando a tragédia nos atinge, Almir Gonçalves Jr., ed. Juerp
Caro leitor, muitas circunstâncias nos são impostas e isto faz parte do estar vivo, é um caminhar sem volta, é algo inexorável. É a vida, meu irmão... é o enigma da morte, que quando vem de repente e em forma de tragédia, parece que nunca vamos aceitar, pois realmente, como é difícil entender a vontade de Deus na nossa vida. Mas, será que compete a mim entender? Acho que Deus é soberano e é meu pai. Aceito a sua vontade pela fé, a mesma que sempre me sustentou, pois vocês já pensaram quão poderosos seríamos se tudo fosse explicável. Sei que eles estão guardados por Deus e só me resta confiar e viver da melhor maneira, quer dizer, viver como Deus deseja, sendo alvo da Sua vontade e esperando a minha passagem. Minha 1ª neta está chegando e meu filho caçula, Felipe, e sua esposa Cyntia, resolveram chamá-la Débora ,como uma homenagem de quem está chegando para quem partiu e que foi vitoriosa em sua pouca vida.
Por que meus amores foram levados, jamais entenderei ... Luiz, Débora, Rodrigo e Carolina estavam aqui neste mundo como eu e você : somente de passagem. Sim, estamos passando. Simplesmente passando. Eles desejavam em vida abalar – este era o termo que usavam - Angra dos Reis com a Palavra de Cristo e assim fizeram. No domingo pela manhã, Débora disse para a sua igreja que quando morresse desejava que fosse só louvor em forma de cantos. Na madrugada de 2ª feira ela e sua linda família abalaram a cidade com cantos de adoração e gratidão ao Senhor entoados por seus amigos e familiares, no templo da Igreja evangélica congregacional. Honra e glória ao Senhor sejam sempre dadas para sempre, em qualquer circunstância.
Abraços,
Westh Ney Rodrigues Luz
E ela - a morte - chega de diversas formas. Alguns são levados por balas perdidas ou assaltos, por doença longa com muito sofrimento ou porque o coração cansa e morrem subitamente – assim foi com meu querido e amado pai – sendo idosos ou não.
Meu avô partiu com 104 anos, mas meu pai foi sem se despedir, aos 73 anos, depois de trabalhar o dia inteiro. Como a vida do meu pai foi importante para mim! Ninguém nunca saberá o quanto ... Minha mente entende, mas meu coração acha que ele ainda era muito novo. Eu, minha mãe Elcy , junto com minhas irmãs – Minie Lou, Dorine e Débora - sofremos muito, e foram momentos difíceis aqueles. Nem desconfiávamos que piores dias nos sobreviriam.
Enquanto o coração ainda cicatrizava, fomos tragadas pela tragédia que invadiu nossa família, quando no vigor da vida perdemos de uma só vez minha irmã caçula Débora Rodrigues Antunes, 41 anos, meu sobrinho Rodrigo Rodrigues Antunes, 20 anos e meu cunhado-irmão Luís Hollandino Antunes, 44 anos, no dia 9/12/2002, quando parte da sua casa desabou durante as chuvas torrenciais que invadiram Angra dos Reis. Eles, os pais, chegaram da Igreja bem tarde, pois estavam ensaiando para o Congresso de adoração, que minha irmã estaria dirigindo na semana seguinte. Rodrigo, meu sobrinho, dormia, e minha sobrinha, a Carol, de 13 anos esperava por eles. Chegando em casa, passado algum tempo e sentindo o perigo, Luís providenciou tudo na maior urgência, correndo para acordar seu filho que dormia tranqüilamente. Não houve tempo para nada, pois a tromba d’água que se abateu sobre a cidade saiu arrastando uma floresta sobre a casa nova que eles tinha construído três meses antes. Como é difícil relatar, escrever sobre isto, mesmo passados dez meses. Minha sobrinha Carol foi socorrida com vida - era costume minha irmã ler a Bíblia com a filha – pois sua mãe caiu por cima dela, ficando a Bíblia entre as duas.
Enquanto Carolina lutava no hospital em Angra, nós nos apegávamos à idéia de estarmos equilibrados - parecia que iríamos enlouquecer de tanta dor – para poder cuidar dela, cercá-la de todo amor e criá-la como minha irmã desejaria. Respirou por aparelhos, ficou em coma induzido para não sentir dor. Cada dia o quadro foi piorando, rins, pulmões, mas a nossa fé estava inabalável, pedindo a Deus que cuidasse dela e fizesse a sua Santa vontade na vida daquela menina serva de Deus que adorava o Senhor com danças, ministério este que levava muito a sério.
No dia 23/12, Carol fez 14 anos no hospital, e no dia seguinte, às 18h, ela partiu para junto de Deus. Disse para o médico que a assistiu nos momentos finais que gostaria de estar junto com seus pais, pois lá era melhor. Na manhã de Natal de 2002, lá estávamos nós no culto fúnebre de Carolina, a nossa menina, cantando e chorando na nossa meia-noite, apesar de ser apenas 11horas de uma manhã muito triste.
Existe uma razão? Perguntas, indagações assolam nossas mentes, pois queremos entender o que nunca aceitará nosso coração. E a única certeza vital para mim ao enfrentar aquele momento é que estou nas mãos de Deus. A verdade é que a única certeza em um momento de dor tão pungente, profundo - quando você é cristão realmente - é a da presença do Senhor, e isto será a realidade mais marcante, e isto sim, fará a diferença maior, pois é neste momento que poderemos provar para que serve a nossa fé. A notícia da morte ainda nos deixa perplexos, mesmo sabedores que somos finitos; mas por mais dura que seja a situação vivida, precisamos ter a certeza de que Deus está no controle de tudo. Ah, como é necessário muita fé para entoar um bendito como o povo de Israel fazia em todos os momentos: "Bendito seja o Senhor que, dia a dia, leva o nosso fardo! Deus é a nossa salvação" (Sl 68.19).
Sei que vamos sobreviver, " ... pois o necessitado não será para sempre esquecido, e a esperança dos aflitos não se há de frustrar perpetuamente (Sl 9.18). Precisamos vigiar para que não sintamos que fomos traídos por estarmos sofrendo, ou sentir que fomos desamparados pelo próprio Deus. Pode ser que você tenha sido ensinado que, como crente nunca sofreria , não perderia bens, empregos, familiares ou saúde. E se assim acontecer, não deixe a desilusão tomar conta da sua alma por ter aprendido que nada de mal afligiria os filhos de Deus. Como eu gostaria que você não sofresse... Pense: nosso Deus é muito maior do que pensamos, e então você pode ficar consolado, mesmo com saudades, quando entrega sem reservas a sua dor ao Senhor. Sei que é muito difícil fazer isto de verdade e também sei quão difícil é explicar o sofrimento do ponto de vista humano; mas se pudéssemos aquietar nosso coração e esperar no Senhor ...
Querido leitor, saiba que qualquer palavra nunca será suficiente para suavizar a dor da separação ou mesmo a dor visceral que toma conta do nosso corpo em um momento como este, mas a Palavra de Deus, vinda através dos amigos e irmãos, vem fortalecer o pensamento de que a paz de Deus precisa nos valer. Veja que bela oração é o hino 68HCC, 2ª estrofe: "Sem o teu alento, forças não terei / e ao meu sofrimento não resistirei./Tua mão fraterna minha vida conduz./ Esperança eterna; tudo és tu, Jesus.
Experimente o consolo, a certeza que vem da carta aos Romanos 11:33-36, quando o apóstolo Paulo entoa o seguinte hino de adoração ao Senhor: "Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos! Porque, quem compreendeu a mente do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado? Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém". A minha dor ainda não cicatrizou e digo para vocês que de vez em quando vai doer... Mas isto só dá em gente... e gente que ama muito.
Eu nunca desanimo e nem deixo de lutar, mas a vida também segue seu rumo, e somos empurrados - literalmente - para nossas atividades de subsistência de modo que esquecemos de nós mesmos e de que existe um tempo de luto, até para uma reflexão; mas o corpo sente, então, que precisamos também do silêncio absoluto, do tempo da reflexão e do chorar. O problema é que muitas vezes precisamos consolar nossos familiares e então parece que crescemos além do sofrer; mas sempre chega "a noite", chega a nossa hora de estar dentro da nossa caverna.
Sabe, logo no início fazia como Elias, quando Deus lhe disse para reagir: Levantava, me alimentava, e saía para fazer o que precisava ser feito. Mas, sempre durante o dia surgia um momento em que precisava parar e ficar em repouso, escondida, pois era o momento crucial, quando as lembranças invadiam a alma. Dormia e saía pra trabalhar à noite. Em alguns momentos dormia somente por duas horas e é lógico que o corpo doía todo no dia seguinte e os pensamentos ficavam mais lentos. É preciso um cuidado redobrado para não adoecer, pois o sofrimento também acaba diminuindo a imunidade do corpo. Mas, Deus é e sempre foi em outras ocasiões a minha torre forte; faz-me lembrar de que sou humana, e, de que preciso parar. Parar para manutenção.
Sou a irmã mais velha e ela, a Débora, a caçula - que vi nascer literalmente, pois o parto foi em casa, e junto com meu pai fomos chamar a parteira - sendo a diferença de idade entre nós de 10 anos e nosso relacionamento mais do que irmãs. Levei-a para as vacinas, escola, ensinei piano, puxei orelhas, coloquei de castigo, aconselhava, marcava colado como qualquer mãe faria. Estive presente em reuniões de escola , entrega de boletim, providenciando documentos, passeando com ela, cursos de teatro... Para o seu casamento fiz dois grandes bolos – doce e salgado - cuidei da cerimônia, regi o coro. Foi minha grande ajudadora com meus filhos pequenos, me fazendo companhia. Vi seus filhos nascendo e minha casa era o porto de carinho e amor que eles sempre tinham e onde podiam estar.
Duas semanas antes de Deus convocá-la, ela me ligou e disse para eu não morrer e me cuidar, pois não resistiria se tal acontecesse, pois eu era a mãe que ela sempre desejou ter e que precisava muito do meu colo. Foi a última vez que nos falamos e por telefone ... Como eu desejaria estar com ela agora e dar-lhe muitos beijos e colos ! Sei que o tempo e a graça de Deus irão me ajudar.... Sei também que o Espírito de Deus , o Consolador, me ajudará a enfrentar e elaborar essa perda... Sei que Deus concederá paz ao coração da minha família, no tempo certo.
Sei e confio, pois na Palavra de Deus encontro as suas promessas e me uno ao salmista dizendo: "... dirão todos os cantores e tocadores de instrumentos: todas a minhas fontes estão em ti." (Sl 87.7); "Preciosa é à vista do Senhor, a morte dos seus santos." (Sl 116. 15); "Porém eu cantarei a respeito do teu poder; de manhã louvarei bem alto o teu amor, pois tu tens sido uma fortaleza para mim, um refúgio nos meus dias de aflição." (Sl 59.16); "O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã." (Sl 30.5) . Aliás, quando tudo aconteceu, minha mãe ficava andando pela casa, com a Bíblia aberta, lendo em Isaías 57.1: "Perece o justo, e não há quem considere isso em seu coração, os homens compassivos são retirados , sem que alguém considere que o justo é levado antes que venha o mal."
Eles amavam a Deus de uma maneira especial e Cristo reinava livremente nas suas vidas. Todos eram integrados e participantes no Reino do Senhor. Não mediam esforços investindo seu tempo e bens financeiros no Reino de Deus. A casa deles estava sempre cheia com muitos amigos após os cultos ou qualquer ocasião. O lar deles era um lugar de festa, amor, alegria e abrigo. A família ultimamente estava com uma maratona linda de leitura de livros cristãos e compartilhavam com alegria suas descobertas sobre a Palavra de Deus. Ainda hoje, como é difícil entender tudo o que acontece e por isto me apego na Palavra, onde e só ali poderei encontrar consolação . "Bem-aventurados os mortos, que desde agora, morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem das suas fadigas, pois as suas obras o acompanham." (Ap 14:13)
Recebi muitas mensagens de carinho tentando consolar . Algumas muito boas e outras que caíam no vazio, pois colocadas de forma não muito feliz, como: " ...vai passar...; não chore, eles já estão com o Senhor ; ... você vai encontrar com eles no céu; ...com o tempo, vai diminuir a dor! ; ...eram crentes? que bom, então já estão com Deus ! ... foi a vontade de Deus..." Precisamos estar atentos para não ficarmos repetindo frases decoradas e sem sentido, pois quem está sofrendo não precisa de muita coisa. Precisa apenas de abraço sincero em silêncio.
Sentir, ouvir os lamentos, enxugar as lágrimas, chorar e orar junto são expressões de solidariedade que fazem muito bem. Recebi palavras que soaram como jóias ao meu coração, como: "Sabemos que o bom Deus há de consolar seu coração...; choro com você; ..vou orar por você e seus familiares; ...estou à sua disposição se desejar minha ajuda, pode contar; ...quando tiver vontade de chorar, não se reprima; .. se quiser um ouvido, olha o meu telefone aí embaixo...
Li alguns livros que tinha comprado para ajudar minhas amigas enfermas e familiares em outras situações - pois aqui em casa, no espaço de 2 anos estávamos enterrando pessoas queridas de 6 em 6 meses - mas não podia imaginar que seriam úteis para mim em mais um momento de tristeza, que foi esta tragédia. Eis os livros: O nominável e o inominável., Mannoni, ed. Zahar ; Enfrentando a morte, J. Bayly, ed. Mundo Cristão; Quando alguém que você ama está morrendo, Drª Ruth Kopp, ed. Juerp; Quando a tragédia nos atinge, Almir Gonçalves Jr., ed. Juerp
Caro leitor, muitas circunstâncias nos são impostas e isto faz parte do estar vivo, é um caminhar sem volta, é algo inexorável. É a vida, meu irmão... é o enigma da morte, que quando vem de repente e em forma de tragédia, parece que nunca vamos aceitar, pois realmente, como é difícil entender a vontade de Deus na nossa vida. Mas, será que compete a mim entender? Acho que Deus é soberano e é meu pai. Aceito a sua vontade pela fé, a mesma que sempre me sustentou, pois vocês já pensaram quão poderosos seríamos se tudo fosse explicável. Sei que eles estão guardados por Deus e só me resta confiar e viver da melhor maneira, quer dizer, viver como Deus deseja, sendo alvo da Sua vontade e esperando a minha passagem. Minha 1ª neta está chegando e meu filho caçula, Felipe, e sua esposa Cyntia, resolveram chamá-la Débora ,como uma homenagem de quem está chegando para quem partiu e que foi vitoriosa em sua pouca vida.
Por que meus amores foram levados, jamais entenderei ... Luiz, Débora, Rodrigo e Carolina estavam aqui neste mundo como eu e você : somente de passagem. Sim, estamos passando. Simplesmente passando. Eles desejavam em vida abalar – este era o termo que usavam - Angra dos Reis com a Palavra de Cristo e assim fizeram. No domingo pela manhã, Débora disse para a sua igreja que quando morresse desejava que fosse só louvor em forma de cantos. Na madrugada de 2ª feira ela e sua linda família abalaram a cidade com cantos de adoração e gratidão ao Senhor entoados por seus amigos e familiares, no templo da Igreja evangélica congregacional. Honra e glória ao Senhor sejam sempre dadas para sempre, em qualquer circunstância.
Abraços,
Westh Ney Rodrigues Luz
Olá,
ResponderExcluirEstava passando em busca de mais inspiração para meu blog (http://esopoe.blogspot.com/) deparei com um momento em que vivo ao ler essa publicação ...sinto me triste .. mas vejo que sofre (ou sofreu) muito mais ... obrigado A Deus por essas palavras ..
é muita dor mesmo. Que bom que o texto ajudou...mas esta dor será pra sempre.
Excluirum dia mais forte, outro dia mais suave
abs
é muita dor mesmo. Que bom que o texto ajudou...mas esta dor será pra sempre.
Excluirum dia mais forte, outro dia mais suave
abs
Emocinada com o texto que acabei de ler .Li no momento de tristeza pois perdi minha mãe há uma semana e através dele senti consolo que preciso nesse moment o de dor.Deus abençoe sua vida Westh Ney.
ResponderExcluirEsta dor não vai passar.
ExcluirVai diminuir, mas na minha experiência o lut é para sempre
bj
Esta dor não vai passar.
ExcluirVai diminuir, mas na minha experiência o lut é para sempre
bj
Parei por aqui relendo este texto que você me encaminhou em um momento que vivi minha despedida da minha irmã. Mais uma vez me sentindo confortado.
ResponderExcluirDeus te abençoe.
Marcos
Excluireu nunca esqueço esta sua dor. Bjs
Esta dor não vai passar.
ExcluirVai diminuir, mas na minha experiência o lut é para sempre
bj
Olá, conheci Débora, Luiz, Rodrigo e Carol. Eram pessoas especiais, mesmo.... foram muito amigos... até hoje não entendo... bom te ler... Deus ilumine e conforte seu coração, sempre....
ResponderExcluirdesculpa, meu nome é Christiane, morei em Angra e agora moro no Rio.
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