segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Meu pai

Meu pai nunca disse 
o que eu deveria fazer ou ser,
nunca me deu conselhos, 
ou censurou minhas 
decisões afetivas, 
profissionais ou 
mesmo espirituais.
Nunca.
.
Enquanto caminhava com ele 
pelas ruas cheias e claras
ou escuras e vazias 
do centro do Rio, 
ou no ônibus cheio
ou no carro 
(ouvindo Nelson Gonçalves),
o meu pai só 
ouvia, 
ouvia, 
ouvia...
.
Ele me escutava,
e eu via seu meio sorriso,
ou escutava suas raras gargalhadas,
ou apenas um "hum hum" com lábios cerrados
que sempre acreditei serem um "sim sim".
E eu falava, 
falava, 
falava muito...
Contava histórias, 
quase sem respirar,
e sonhava, 
sonhava, 
sonhava...
.

Ele?
Escutava, 
escutava, 
escutava...
e sorria 
com seus olhos 
pequenos e pretos.
.
Hoje, ele não mais pode me ouvir, e
não sinto falta de falar com ele.
Já falei tudo.
Só sinto falta do seu silêncio
e também de beijar e 
abraçar,
abraçar, 
abraçar.
Bênção pai!
 por Westh Ney Rodrigues Luz